Milagroso bilhete na garrafa
Luciano Siqueira
Eu que pensava que bilhete em garrafa
jogada ao mar não passava de imaginação literária e brincadeira de navegante
eventual, sou levado hoje a dar o braço a torcer.
Seis náufragos de um barco que pegou
fogo no norte do Pará foram resgatados por helicóptero da Marinha e estão
devidamente aliviados em terra firme.
Eles — cinco homens e uma mulher —
foram parar numa ilha de difícil sobrevivência, denominada Ilha das Flechas.
Apelaram para o bilhete na garrafinha e
deu certo.
Pescadores encontraram a dita cuja
levaram a sério a mensagem nela contida.
Como diria o argentino Borges, a vida
imitou a ficção.
E, de quebra, alimentou nesse modestíssimo
escriba a ilusão renascida de que um dia alguém venha a encontrar a garrafa que
deixou cair nos mares do Maranhão, no trajeto de São Luís a Alcântara, há uns
quinze anos ou mais.
Já nem me lembro o que escrevi num
pedaço de papel, que seguiu incluso na garrafa. Se não me engano, trecho de um
poema de Drummond e o número do meu telefone.
Onde terá parado a garrafa?
Talvez na costa da África portuguesa, o
que facilitaria a compreensão da minha mensagem.
Porém pode ter ficado mesmo em terras
maranhenses e algum nativo, ao perceber que se tratava de mensagem de
temporário navegante pernambucano, sequer se interessou pelo contato.
Ou não gostava de poesia, quem sabe preferisse um palpite para o jogo de bicho. Ou uma oração, sei lá.
Creio que ainda terei tempo de vida
para em alto mar tentar novamente o bilhete numa aventureira garrafa de
refrigerantes. Ou de cerveja long net.
No mínimo ganharei em troca o prazer da
espera...
.
Veja: O PCdoB e a política de alianças: a água e o óleo https://bit.ly/3EonuYC
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