Disputas que se
entrelaçam
Luciano Siqueira
Agora que a campanha
eleitoral propriamente dita toma corpo impulsionada pela propaganda na TV,
institutos de pesquisa combinam as apurações do pleito presidencial com a
peleja pelos governos estaduais.
Eis um caso em que
cabe a expressão nem tudo que reluz é ouro.
São duas disputas que
se entrelaçam, mas guardam particularidades e ritmos essencialmente distintos.
A começar pelas
composições partidárias, que em torno das candidaturas à presidência da
República ganham desenho próprio, que necessariamente não se repete em plano
estadual.
Partidos que estão
juntos para presidente se digladiam na busca de elegerem o governador do
Estado.
Isso é próprio do
sistema eleitoral vigente, que descola coligações nacionais e estaduais,
agravado pela enorme diversidade regional que caracteriza a sociedade
brasileira e se replica na esfera política institucional.
Ora, se Lula
consolida sua vantagem sobre o principal opositor, Bolsonaro, por que igual
tendência não acontece com candidaturas estaduais receptoras do aval explícito
do ex-presidente?
Porque uma coisa é
uma coisa e a outra coisa é diferente, responde o sábio e sempre atento amigo
Epaminondas.
São inúmeras as
variáveis em plano estadual e é preciso analisar caso a caso.
O caso de Pernambuco,
por exemplo.
Proliferam
candidaturas majoritárias, entre as quais disputam cinco mais competitivas, num
cenário em que o candidato da Frente Popular, deputado Danilo Cabral (PSB)
enfrenta o fogo cruzado desferido por quatro outras candidaturas encorpadas,
constituídas por ex-aliados.
Nas pesquisas mais
confiáveis, Danilo ainda segue em quinto lugar com ligeiro crescimento após o
início da propaganda na TV. A deputada Marília Arraes (Solidariedade, ex-PSB e
ex-PT), lidera com folgada margem. Ambos têm em Lula o seu candidato à
presidência da República.
Marília se beneficia
do recall da mais recente disputa pela prefeitura da capital, quando ainda era
do PT e exibia diariamente na TV sua imagem associada a de Lula; e Danilo,
embora ex-secretário de estado, ex-vereador na capital, detentor de três
mandatos de deputado federal e apoiado publicamente por Lula, ainda é
relativamente desconhecido do grande público.
Leia também: Um Partido que na batalha eleitoral busca
múltiplas vitórias https://bit.ly/3zi5Kxt
Entre esses dois
extremos, as candidaturas da ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB e
ex-PSB), Miguel Coelho (União Brasil e ex-PSB) e Anderson Ferreira (PL),
outrora componente da Frente Popular e agora bolsonarista assumido.
Além de fatores
diversos que dizem respeito, digamos, à subjetividade do eleitorado e sujeitas
em grande medida ao confronto de ideias e imagens, deve pesar também a dimensão
dos palanques constituídos por cada candidatura, centrados nas cidades polo do
estado e na Região Metropolitana do Recife.
Tudo indica que o
pleito se decidirá num segundo turno.
Embora pareça que a
candidata Marilia Arraes já atingiu o teto em intenções de voto e possa cair
daqui por diante, certamente continuará na dianteira.
Contra quem? Não será
surpresa se o seu oponente vier a ser o atual quinto colocado nas pesquisas,
justamente o candidato da Frente Popular, Danilo Cabral, que encabeça a
coligação mais numerosa (inclusive a federação PT-PCdoB-PV) e mais consistente,
com maior tempo na TV e no rádio, e que conta com palanques mais fortes no
interior do Estado.
Certamente este
exemplo expressa muitas situações semelhantes pelo país afora.
Aos dirigentes
partidários e estrategistas de campanha impõem-se, assim, mais ou menos
complexos desafios táticos.
Por exemplo, embora
seja curta a campanha, a escolha do adversário principal pode se alterar no
curso da peleja, tendo em vista inclusive alianças futuras num hipotético
segundo turno.
Ao final, tudo
depende da escolha feita por quem efetivamente decide, o eleitor.
Veja: Pedir o voto faz a diferença https://bit.ly/3QUTNTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário