17 dezembro 2022

Uma crônica para descontrair: Melka Pinto

O espetáculo da vida
Melka Pinto*

 

Demoro a escrever crônica, por falta de tempo ou preguiça, por inspiração nunca, as crônicas são escritas através da matéria-prima da vida e de viver, como foi ontem o espetáculo da Escola de Frevo do Recife.

Um dia desses pensando sobre a vida e nas situações e desfechos diversos que ela pode ter, cheguei à conclusão que a vida acontece, a vida simplesmente acontece e não temos nenhum controle sobre os eventos que nela incidem e sabendo disso é preciso sempre lembrar que o tempo que temos de viver é o de agora. A vida acontece e agora, inevitavelmente.

Ontem depois de dois anos impedido de ser realizado devido a situação de pandemia, pude assistir como mãe de aluna, ao espetáculo que finaliza as atividades letivas da Escola de Frevo e descarreguei choros de emoção em quase todas as apresentações de um verdadeiro e grandioso espetáculo. 

Quem esteve no Teatro do Parque pode sentir e se conectar com a energia do carnaval se aproximando novamente, pudemos assistir homenagem à Copa do Mundo, que mesmo com a nossa eliminação nas quartas de finais não diminuiu a alegria de ser torcedor brasileiro, relembramos através das apresentações a dor que a pandemia trouxe sem frevo e sem carnaval, vimos e aplaudimos o frevo nas mais diversas formas e ritmos de iniciantes aos passistas de nível avançado, intercalado de resgates dos contextos históricos através da arte dançada e encenada, foi 'redondamente' espetacular.

Eu chorei ontem sentido a mesma emoção que senti no começo do ano quando pude assistir pela primeira vez uma aula da minha filha na Escola, naquela aula vendo as e os pequenos dançarem com máscara de proteção contra Covid me fez passar um filme na cabeça, depois de dois anos de tanta espera para voltar a viver a vida, com tanta sede de viver, ou esperando para conhecer a vida real como os mais pequenos, parecia que nós, sobreviventes da pandemia e do genocídio que testemunhamos, enfim podíamos cantar e dançar novamente, podíamos pensar no carnaval novamente, na vida!

E foi no espetáculo no Teatro do Parque que vi essa vida acontecer de novo diante dos meus olhos, que me fez chorar, sorrir e gritar, no espetáculo vi que é possível apresentar para as nossas crianças a vida de novo, a vida pulsante, alegre, colorida e fazendo passo de frevo com muito brilho e com gente de todas as idades, tamanhos e cores.

Como disseram os professores, aquele espetáculo serviu para nos mostrar que não existe impedimento para dançar frevo e Matheus, passista cadeirante irreverente, nos mostrou isso cheio de performance em cima do palco, como disse o professor Pinho Fidélis "é pra todos os corpos, pessoas com deficiência física, intelectual, autismo, síndrome de Down" e vimos ali como disse o professor Bruno Henrique "toda a diversidade de gente através da individualidade de cada um" e com certeza saímos de lá pensando que no próximo espetáculo pode ser um de nós a estar se apresentando naquele palco. Quem sabe?

Gravei na cabeça ontem de Antônio Nóbrega, "olhai, olhai, admirai como isso é bom, é bom demais" e no espetáculo olhei e admirei chorando feliz a vida simplesmente acontecendo no agora. Obrigada, Escola de Frevo do Recife.

*Ex-presidente da União dos Estudantes de Pernambuco, enfermeira

Os fatos em órbitas sucessivas https://bit.ly/3Ye45TD

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