13 dezembro 2024

Juros altos nocivos

Entidades sindicais e empresariais criticam alta “injustificada” dos juros
Com aumento da Selic para 12,25%, Brasil ultrapassa a Rússia (em guerra) e fica novamente na segunda posição entre os maiores juros reais do mundo, atrás apenas da Turquia
Murilo da Silva/Vermelho  

O lamentável aumento da taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), na quarta-feira (11), foi recebido de forma negativa em diferentes setores da sociedade e da economia. Entidades sindicais e empresariais não enxergam justificativa para o aumento de 1 ponto percentual que elevou a taxa para 12,25%, o que devolve o país para a segunda posição entre os maiores juros reais do mundo.

O aumento foi tão fora de tom que surpreendeu até mesmo o mercado financeiro, que pressionava para a elevação, porém acreditava em uma alta mais contida.

Movimento sindical

O movimento sindical, que liderou as manifestações pelo início do ciclo de queda dos juros em 2023 e se manteve crítico às decisões do BC, enxerga este aumento com incredulidade e argumenta que a alta joga diretamente contra os interesses do país.

Ao Portal Vermelho, o vice-presidente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e presidente da CTB-SP, Renê Vicente, criticou a elevação dos juros e a autonomia do Branco Central.

“O aumento da taxa Selic para 12,25%, na última reunião do Campos Neto [presidente] à frente ao Banco Central, demonstra o total descompromisso que essa entidade tem com uma Política Nacional de Desenvolvimento e de recuperação industrial. Nós da CTB temos um posicionamento contrário a essa política de independência que, na verdade, coloca o Banco Central a serviço do capital financeiro-especulativo em nosso país. Temos que rediscutir essa falsa autonomia do Banco Central, pois ele tem que estar atrelado às políticas públicas de desenvolvimento, de valorização do trabalho e de distribuição de renda”, diz.

Segundo o sindicalista, o BC tem respondido aos anseios do mercado de capital especulativo em detrimento da população brasileira e do setor produtivo, que gera renda e promove empregos. “Não podemos admitir que esta entidade fique à mercê da especulação financeira e do rentismo. Por isso temos um posicionamento contrário a esse novo aumento que elevou os juros a 12,25%, uma das taxas mais altas do mundo hoje. Isso é totalmente prejudicial à classe trabalhadora. Menos juros e mais empregos, essa é a política que defende a CTB”, completa Renê Vicente.

Em nota, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que o aumento dos juros é “remédio desnecessário, errado, com efeitos colaterais nefastos” e disse que BC compromete a produção ao arrefecer a intenção de consumo. O dirigente ainda publicou vídeo em que lembra que o Brasil tem crescimento econômico, PIB em alta, desemprego diminuindo e a confiança aumentando: “É inadmissível que diante de um cenário tão favorável o Banco Central faça essa sacanagem. É um tiro no pé do Brasil”, afirma.

Já a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, aponta que a decisão do BC “está aumentando o custo de vida para as famílias, para as empresas e para o Estado brasileiro”, sendo que “é um boicote ao crescimento econômico do país e apenas reafirma que o órgão é suscetível às pressões do mercado financeiro e se desvia das responsabilidades para com o Brasil”.

Conforme aponta a dirigente, os danos “são irreparáveis ao desenvolvimento, além de não resolver a alta de preços dos alimentos, ligada a questões climáticas”, complementa Moreira.

Entidades empresariais

Diversas entidades empresariais também repudiaram o aumento dos juros. A Confederação Nacional de Indústria (CNI) publicou nota em que coloca: “alta da Selic é incompreensível e totalmente injustificada”. 

Para a Confederação, manter o ciclo de alta da Selic “não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal.” Neste aspecto, em outra parte da nota, a CNI lembra que o pacote apresentado é positivo e que a “reação adversa é provocada por temor injustificado de que a reforma da tributação da renda não será fiscalmente neutra”.

Os industriais ainda destacam que existe “a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nos juros na próxima semana.”

Segundo a entidade, este cenário de elevação dos juros tem minado a confiança dos empresários, situação vista nas recorrentes quedas do Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), medido por eles. Nesse sentido, o BC está sendo diretamente responsável por reverter o otimismo dos empresários com o país para uma “situação de pessimismo.”

Na mesma linha, a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) manifesta preocupação e ressalta “que juros excessivamente altos podem gerar mais danos à economia do que oferecer soluções eficazes”. Para a entidade o acréscimo da Selic “tende a restringir investimentos, prejudicar a competitividade da indústria e aprofundar os efeitos negativos sobre o crescimento econômico, o emprego e a renda.”

Já a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) reconheceu que o aumento é “excessivo e agrava ainda mais o quadro de baixa competitividade”, mas preferiu ponderar que a situação “reflete, em grande parte, o cenário atual de desconfiança com relação à trajetória da dívida pública.”

2º maior juros reais do mundo

O aumento da Selic fez o Brasil retomar o ingrato posto de nação com o segundo maior juros reais do mundo (taxa de juros descontada da inflação). O país ultrapassou a Rússia, com o adendo de que estão em guerra, e fica atrás apenas da Turquia, segundo levantamento da consultoria MoneYou. Veja os cinco maiores juros reais:

  1. Turquia – 13,33%;
  2. Brasil – 9,48%;
  3. Rússia – 8,29%;
  4. Colômbia – 6,46%;
  5. México – 5,75%.

Quando se considera apenas os juros nominais (sem descontar a inflação), o Brasil está em quarto:

  1. Turquia -50%;
  2. Argentina – 32%;
  3. Rússia – 21%;
  4. Brasil – 12,25%;
  5. México – 10,25%.

A próxima reunião do Copom, já sob a presidência de Gabriel Galípolo, acontece nos dias 28 e 29 de janeiro. No comunicado do Comitê não é descartado novo aumento dos juros no mesmo patamar sob a justificativa de convergência da inflação à meta.

Leia sobre décadas de política monetária equivocada https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/plano-real-30-anos.html

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