Quando a realidade desautoriza o preconceito
Luciano
Siqueira, no Blog da Folha
No Brasil dos nossos dias crescente e acirrado é o confronto
entre o preconceito e a realidade concreta. Em outras palavras: conquistas
sociais não rimam com a ideologia do privilégio.
Conforme assinala o titular do Instituo Data Popular, Renato
Meireles, expressão emblemática desse preconceito é o constrangimento que muita
gente da chamada classe média alta experimenta ao se deparar, no salão de
embarque dos aeroportos, com a sua faxineira que, em férias, viajará no mesmo
voo.
“É o comunismo do PT”, acicata o cantor José Ramalho,
dizendo-se incomodado com a presença de tanta gente pobre viajando de avião.
Nessa mesma linha, muitas vezes ouvimos críticas agressivas
ao Bolsa Família, acusado por políticos de indeclinável matiz direitista – em
Pernambuco, por exemplo – e gente “graúda”, que consideram o programa um estímulo
à vadiagem (sic).
“Desinformação e preconceito”, rechaça a ministra a ministra do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.
Na verdade, desde 2003 o
Bolsa Família atua como importante redutor da pobreza. Complementa a renda das
famílias atendidas e oferece atenção à saúde e à educação a crianças,
adolescentes e mulheres gestantes.
Uma importante contribuição
para que o Brasil tenha sido excluído, pela ONU, do mapa mundial da fome.
Atualmente, são
atendidas cerca de 14 milhões de famílias em todo o país.
Age também o programa
com indutor da economia local. A cada R$ 1 investido, o retorno é R$ 1,78 para
a economia.
Isto a custo
proporcionalmente reduzido, pois o Bolsa Família consume apenas 0,5% do Produto
Interno Bruto do país, conforme previsão orçamentária para 2016.
O fato é que as
políticas públicas que proporcionaram a maior mobilidade social de que se tem
notícias na História do Brasil, retirando da miséria e da pobreza extrema mais
de quarenta milhões de pessoas em apenas doze anos, dão o pano de fundo à
tremenda disputa pelo poder ora em curso.
A ansiedade com que as
forças derrotadas no último pleito presidencial tentam, a todo custo, via tribunais
e parlamento, a interrupção do mandato da presidenta Dilma reflete interesses
de classe bem definidos. Daí economistas credenciados nas hostes oposicionistas
terem antecipado, dias atrás, intentos regressivas em matéria de política
econômica, antevendo um desejado retorno ao figurino neoliberal e, por
conseguinte, à ultraconcentração da renda, da produção e da riqueza e a
exclusão de milhões que, assim, retornariam à situação anterior.
O desafio agora é
ultrapassar a crise política, concretizar o ajuste fiscal e retomar o
crescimento socialmente inclusivo – para o País não perca o fio condutor das
transformações sociais.
Assim, a vida seguirá
derrotando o preconceito.
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