Mais direitos, participação e poder para as mulheres
Ana Rocha, no
Vermelho www.vermelho.org.br
Este lema
sugestivo da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, corresponde
a uma exigência da realidade brasileira de superar a subrepresentação
política das mulheres. A trajetória das brasileiras, sua presença na história
do Brasil, sua força crescente em
todas as esferas da sociedade é incompatível com o baixo índice de sua
representação política, que não chega a 10% no parlamento nacional, 12% de
prefeitas, e apenas uma governadora no país. O importante fato de uma
presidenta do país não tem correspondência nas demais esferas de poder.
Este défice
democrático merece reflexão e ação. Constatamos que várias são as causas dessa
realidade. Em primeiro lugar, se deve a uma história de opressão em que
as mulheres são educadas para a submissão e os homens para a dominação, com o
estereótipo do homem provedor e a da mulher cuidadora. O fato é que hoje as
mulheres passaram a ser provedoras mas continuam sendo responsáveis pelo
cuidado com os outros , com poucas oportunidades de
capacitação e espaços qualificados de trabalho e de poder.
A desigualdade
salarial é uma realidade e o trabalho informal é mais presente entre as
mulheres. A falta de políticas públicas efetivas de creches e escolas em tempo
integral, tira das mulheres tempo para seu crescimento pessoal e político. E o
tempo de deslocamento para o trabalho nas grandes cidades reduz ainda mais o
tempo das mulheres para sua qualificação e disputa dos espaços de poder.
A legislação
eleitoral, por outro lado, favorece os homens, que já tiveram o caminho facilitado
para a participação política. Daí a exigência de uma reforma política com
lista fechada e com alternância de homens e mulheres, financiamento público de
campanha e espaço garantido na TV. A mini-reforma foi um avanço ao
garantir a cota de 30% de mulheres nas chapas, 10% do tempo de TV e 5% do
fundo partidário para a capacitação de mulheres. Resta fiscalizar sua
aplicação. Ficou evidente que os países, que como Argentina, avançaram na
representação política das mulheres, foram além das cotas e tiveram um sistema
proporcional, com lista fechada e com alternância, uma legislação eleitoral
mais democrática e favorável às mulheres.
O avanço da
democracia brasileira requer o enfrentamento dessa questão. A pauta
da 4ª Conferência de mais direitos, participação e poder para
as mulheres, permite o debate em ampla escala da questão , seu diagnóstico e
propostas de ação para superar essa defasagem. A consciência das mulheres e da
sociedade em geral do problema é um passo importante para sua superação.
Neste momento
histórico, com a sociedade brasileira atravessando uma onda conservadora, é
preciso resistir e defender a democracia.. Nesse sentido , a realização de
conferências de políticas para as mulheres em mais de dois mil municípios
brasileiros faz parte dessa construção democrática. Aí as mulheres ,
sejam aquelas dos movimentos sociais, dos movimentos feministas e de mulheres,
do poder público, fizeram suas propostas de avanço, dando exemplo de
resistência e superação em cada canto e recanto do Brasil. A Conferência do
Município do Rio, por exemplo, mobilizou 630 mulheres em cinco pré-conferências
em cinco regiões da cidade, e culminou em uma plenária municipal
combativa e propositiva.
Governos
democráticos e populares favorecem o avanço das políticas públicas para as
mulheres. Basta ver que quando Lula assumiu em 2003 a presidência do Brasil,
existiam apenas 13 organismos de mulheres. Ele criou a Secretaria de
Políticas para as Mulheres com status de Ministério e de lá para cá avançaram
as políticas públicas que favoreceram as mulheres. Hoje existem 730
organismos de mulheres. O que atesta a ideia de que a democracia é palco
de avanço dos direitos das mulheres.
Portanto,
a realização da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as
Mulheres é um espaço democrático de debate que favorece o avanço das mulheres
e a resistência democrática contra a onda conservadora. Seu lema de
mais mulheres no poder é o desafio do momento e corresponde ao necessário
ajuste na defasagem da presença política da mulher no cenário brasileiro, para
impulsionar a democracia e o estado de direito, e assegurar a
continuidade e consolidação das políticas exitosas que colocaram o Brasil em
outro patamar de desenvolvimento econômico, político e humano.
A próxima
etapa estadual e nacional da 4ª Conferência deve consolidar esse
processo.
Ana Rocha é psicóloga e
jornalista, Secretária da SPM Rio e membro do Comitê Central do PCdoB
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