Quem se precipita se arrisca
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal NE10
No meio da crise, uma eleição no caminho. Uma coisa se
embaralha com a outra – na realidade e na cabeça de quem planeja o pleito
municipal vindouro.
Se assim é, não há como escapar à criteriosa consideração
dos dois eventos. Mas há riscos que podem comprometer estratégias eleitorais.
O primeiro risco está na precipitação em tirar conclusões
que a vida ainda não permite. Seja em relação ambiente no qual se dará a
peleja, particularmente quanto aos humores do eleitorado – a depender, em
grande parte de em que grau a economia volte a se aquecer, ou não. Seja quanto
ao posicionamento das forças em presença: alianças se desenharão conforme o
evolver dos acontecimentos.
Em âmbito nacional, o desenlace da quebra de braço entre golpismo
versus legalidade democrática pode ser decisivo na conformação do cenário eleitoral
logo em seguida.
O ajuste fiscal que aos trancos e barrancos segue, ainda que
torpedeado pela oposição no Congresso Nacional e pelo mau humor midiático, para
o governo representa uma manobra tática destinada a reequilibrar as contas
públicas. Passageira. Datada.
Triunfando o golpe, entretanto, tucanos e aliados
converterão o ajuste em política permanente – pois assim já disseram, com
nitidez, economistas de suas hostes – com imensas consequências sociais e
políticas.
Em outras palavras, há um imenso bode na sala da economia brasileira,
travando o crescimento, forçando o desemprego e a inflação, gerando
insegurança.
Se o bode permanece, o ambiente se agrava, inclusive o traço
de rejeição aos políticos e ao voto.
Se o bode começa a ser retirado, ainda que lentamente, cada
passo ganhará dimensão psicossocial proporcional à retomada de expectativas.
Renomado e insuspeito advogado de grandes empresas, Alexandre
Bertoldi, sócio-gestor da Pinheiro Neto Advogados, em entrevista ao jornal O
Estado de São Paulo, reconhece os méritos dos governos Lula e Dilma quanto aos
enormes ganhos sociais, diz-se liberal convicto, mas vê a necessidade de
intervenção estatal na economia e a superação da crise pelo aborto da tentativa
de impeachment - para assegurar o padrão de consumo recém-conquistado e
lastrear a retomada do crescimento.
Ele reflete um pensamento que tem base ampla no empresariado
que rejeita o caos e deseja o bom funcionamento da economia. Na contramão do
noticiário catastrófico.
Por outro viés, o comportamento dos partidos políticos agora
implicará desdobramentos no futuro imediato.
Pela sua base social, passarão pelo crivo da coerência – e perderão
ou ganharão robustez.
Na concertação de alianças, roteiros pré-estabelecidos
poderão se consolidar ou novos roteiros se imporão.
Isto posto, mesmo assim de modo algo simplificado, estamos
diante de desafios estratégicos e táticos complexos.
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