Outro "cerco ao monetário". Já é isso?
Elias Jabbour,
no Blog do Renato
Seria
interessante nesta altura dos acontecimentos uma derrocada do ministro Levy e a
implementação de uma agenda centrada na reversão do aperto monetário? O que é
mais importante hoje, retomar o crescimento ou aplacar a inflação? Nenhuma
destas questões tem resposta na economia. A resposta é política e Joaquim Levy,
gostem ou não, é parte de um governo sob fogo cerrado. A queda de Levy seria
uma tragédia que pode levar o governo à lona. Ser radical não é o que parece
ser e sim ir à raiz das coisas, mas também ter capacidade de visão de conjunto.
É essa uma das diferenças entre ser de esquerda e ser esquerdista, sendo a
última variável chave em qualquer cálculo político do campo conservador. O
economicismo é conservador, por excelência.
Particularmente
não gosto de aperto monetário, altas taxas de juros, grandes superávits
primários ou coisas do tipo. Mas as regras do jogo são claras há mais de 20
anos pela via de uma ordem institucional que prevê ajustes fiscais cíclicos e
duras punições para quem sai do script. As punições são mais duras quando se
intenta em compensar o monetário pelo fiscal, seguido pelo cerco ao próprio
“monetário” ensaiado a partir de 2012. Conforme previsto para qualquer um com
algum conhecimento em Economia Política, a resposta do “cerco ao monetário”
combinado com pleno emprego foi a greve de investimentos por parte de um
empresariado de dupla face (industrial e financeiro) combinada com o banditismo
dos oligopsônios/monopsônios ajustando preços da cesta básica, sempre para
cima. O crescimento desejado não veio e a duplicidade institucional (Plano Real
x Nova Matriz Macroeconômica) atingiu em cheio o sistema de formação de preços.
A inflação pode derrubar Dilma da mesma forma que derrubou João Goulart.
Por mais que
gestos de repúdio à atual política monetária guardem ótimas intenções, o que
mais o inferno quer hoje é uma cesta completa deste tipo de intenções. Pedir a
cabeça do ministro quando se percebe que é isso o que mais deseja a oposição é
um ato de irresponsabilidade política imperdoável. Acreditar que a retomada do
crescimento, dentro das institucionalidades do 1994/1999, vai ocorrer de forma
rápida e límpida pela queda abrupta de juros é prova de, no mínimo, uma
ingenuidade nada impressionante. A chance de o governo respirar está na
retomada de um espaço fiscal mínimo que só pode ocorrer quando a inflação
atingir o centro da meta. O jogo é esse, pois somente assim o aperto monetário
poderá ser afrouxado e os gastos do governo poderá retomar alguma trajetória de
alta.
Não se trata do
prospecto de um conservador e sim de alguém que está refletindo a partir de
condições institucionais dadas e consolidadas e que tem clareza da distância
entre suas vontades e percepção da incapacidade destas vontades pautar o
movimento de rotação do planeta. Uma forma de vaticinar que a principalidade da
luta política hoje não está na política monetária. Está longe disso. No
imediato a sobrevivência desta rica experiência política de um governo popular
e democrático reside na manutenção deste governo e na recuperação, urgente, de
um espaço fiscal e de um ambiente mínimo de debate não sobre variáveis de
macrodinâmica. E sim, sobre os pressupostos institucionais que sustentam os
ciclos de ajuste que nos atormentarão até o “fim dos tempos” com direito a um governo
ultraconservador e com força política suficiente para reverter as conquistas da
Constituinte de 1988. Ou mesmo a retomada suicida de outro “cerco ao monetário”
com as mesmas consequências das observadas hoje.
O golpismo,
historicamente, e em todo canto do mundo alimenta-se – num primeiro momento –
nos acertos do campo político popular. Uma resposta à perda de controle sobre
os trabalhadores em decorrência do pleno emprego (Kalecki). No segundo momento
o combustível ao golpismo encontra-se em nossos próprios erros. Erros
decorrentes do completo desconhecimento das formas de funcionamento das leis
econômicas, da separação entre economia e política, da não percepção do
movimento e caráter das classes dominantes, do voluntarismo imediatista, de
pareceres e abaixo-assinados de acadêmicos ditos progressistas, da
superestimação de nossa força e do binômio encerrado no desprezo à história e
da negação de variáveis estratégicas (redundando num sectarismo movimentista).
Incrível como todos estes elementos estão presentes na atual quadra histórica
de nosso país!
Não faço aqui
nenhum apelo de caráter puramente político. Trata-se de um apelo à inteligência
das pessoas. A dialética desconhecida e a velocidade com que as peças no jogo
de xadrez se movimentam nos obriga a variações táticas diárias, na busca – por
exemplo – de uma queda da taxa de juros com vistas a formação de um espaço
fiscal urgente e alguma paz no Congresso Nacional. Traduzindo assim certa
intimidade entre política e economia.
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sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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