O mundo e o futebol não serão os mesmos quando terminar a pandemia
Dirigentes
terão de refletir e analisar tudo o que ocorreu para fazer mudanças de acordo
com nova realidade
Tostão,
Folha de S. Paulo
O mundo parou. Jamais imaginaria essa
tragédia. Vai passar. Temos de ser fortes e solidários. A ansiedade leve,
moderada, estimula as pessoas a ficarem atentas, a se prepararem para enfrentar
o perigo. Mas, se a ansiedade for excessiva, leva ao pânico e à doença mental.
O distanciamento social não é isolamento. As pessoas podem se
comunicar por telefone e pela internet, um vendo o outro, como se estivessem
juntas.
Como passo, normalmente, a maior parte do tempo em casa, lendo,
escrevendo, assistindo aos noticiários, aos programas esportivos e aos jogos de
futebol, não mudou tanto minha rotina.
De vez em quando, caminho pelas ruas vazias, para buscar minhas
necessidades essenciais. Preciso seguir as recomendações dos especialistas.
Estou bem de saúde, não estou gripado, mas sou idoso. Corro mais
riscos.
Procuro saber de todos os fatos, mas o noticiário excessivo é
massacrante. Tento fazer algo novo, ler, reler, assistir a novos filmes. O duro
é ficar sem ver uma partida de futebol ao vivo, mesmo que seja um jogo
qualquer, uma pelada.
Estou relendo o "Livro do Desassossego", escrito por
Bernardo Soares, um dos 127 heterônimos de Fernando Pessoa: "Toda a vida
humana é um movimento na penumbra. Vivemos num lusco-fusco da consciência,
nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Somos qualquer coisa
que se passa num intervalo de um espetáculo; por vezes, por certas portas,
entrevemos o que talvez não seja senão cenário."
O mundo e o futebol não serão os mesmos quando terminar a
pandemia. Dirigentes terão de refletir e analisar tudo o que ocorreu, para
fazer mudanças, de acordo com a nova realidade. Quem sabe o mundo e o futebol
melhorem e o ser humano se transforme, evolua, mude de hábitos, comportamentos,
e se torne mais solidário, autêntico e menos tendencioso.
Preciso falar de futebol. Concordo com Juca Kfouri,
que essa é uma boa chance para se mudar o calendário do Brasil, que passaria a
seguir o modelo europeu. Se não houver futebol no primeiro semestre, o
Campeonato Brasileiro poderia começar em agosto e terminar em maio. Na
Argentina também é assim.
Na coluna anterior, escrevi que, se Marcelo voltasse a jogar no
Brasil, seria destaque no meio-campo, pela esquerda, como é Daniel Alves pela
direita. Zidane já disse que, se o Real Madrid não tivesse muitos craques no
meio-campo, ele escalaria Marcelo como meio-campista.
Receio que, na próxima Copa, por causa da idade ou pela condição
técnica, o Brasil não conte com Marcelo, Daniel Alves e Thiago Silva. Há bons
jogadores para substituí-los, mas nenhum à altura do que jogam ou jogaram os
três. Marcelo foi o melhor lateral esquerdo do mundo na última década. Daniel
Alves competiu, na lateral direita, com outro craque, o alemão Lahm. Thiago
Silva está entre os grandes zagueiros do planeta.
Na última convocação do técnico Tite, havia, em todas as
posições, muito bem definidas, dois jogadores, um titular e um reserva. Tudo
certinho, programado, previsível. São dois volantes mais recuados (Casemiro e
Fabinho), dois volantes que avançam mais, chamados de segundos volantes (Arthur
e Bruno Guimarães), e dois meias de ligação (Philippe Coutinho e Everton
Ribeiro).
Os melhores times e técnicos do mundo são os que têm mais
conhecimento, que são mais organizados, mas que surpreendem, inovam, em
momentos certos.
[Ilustração: Fulvio Pennacchi]
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