Não leva o
coronavírus a sério? Conheça cinco fatos que você precisa saber
Reação à doença, que já matou mais de 27 mil e
contaminou quase 600 mil, foi chamada de 'histeria' por Bolsonaro
Phillippe
Watanabe, Folha de S. Paulo
Você provavelmente tem algum parente, amigo ou conhecido que
concorda com as opiniões do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação
ao novo coronavírus. Tudo seria um grande exagero, ou, como ele disse, uma
"histeria".
Se você discorda do presidente, mas nem sempre tem à mão
informações práticas para mostrar como a pandemia é grave, aqui vai uma lista
rápida que pode te ajudar:
1 - NÃO É UMA ‘GRIPEZINHA’
A
Covid-19 não é uma doença qualquer ou uma “gripezinha”,
como já disseram algumas pessoas, inclusive o presidente Bolsonaro.
A
situação é tão complexa que, após três meses se espalhando pelo mundo, mesmo
com medidas restritivas, a doença já afetou mais de 600 mil pessoas e provocou
cerca de 30 mil mortes.
A
Europa luta para controlar o vírus pelo menos desde o começo do mês. Na última
sexta (27), a Itália,
país europeu mais afetado até o momento, registrou 919 mortes pelo novo
coronavírus em um único dia, e a documentação de centenas de mortes pela doença
tem sido uma rotina. O total de mortos já gira em torno de 10 mil.
No
início da crise epidêmica, a cidade de Milão minimizou
a ameaça e lançou a campanha "Milano Non Si Ferma" (Milão Não Para)
—o governo brasileiro, nesta semana, lançou campanha semelhante:
#OBrasilNãoPodeParar. Bolsonaro tem criticado, sem apresentar argumentos
científicos, medidas de isolamento mais restritivas para conter o vírus.
Na
Itália, a Lombardia, região onde se localiza Milão, é a área mais afetada do
país, com mais de 37 mil casos. O prefeito da cidade, Beppe Sala, admitiu nesta
quinta que errou: "Foi um erro. Ninguém ainda havia entendido a virulência
do vírus".
A Espanha, com
cerca de 70 mil casos e mais de 5.000 mortes, também se
encontra em situação crítica.
Fora
da Europa, o panorama também preocupa as autoridades. Na sexta, os EUA
ultrapassaram os 100 mil infectados pelo novo coronavírus. A OMS (Organização
Mundial da Saúde) tinha alertado, na terça, que os casos americanos estavam
crescendo com rapidez e que o países poderia se tornar o novo epicentro da
doença no mundo. Naquele momento, eram mais de 50 mil doentes.
E,
claro, tem também a China, que, após medidas severas de isolamento, aparente
ter conseguido controlar a epidemia. O país teve pouco mais de 80 mil casos e
de 3.000 mortes. Com a transmissão local controlada, o país agora luta contra
os casos importados da doença.
Uma
“gripezinha” não faria um estrago assim nesses países.
2 -
NÃO TEM CURA
O
impacto da doença, em parte, tem a ver com o fato de o Sars-CoV-2 ser novo.
Isso quer dizer que nosso sistema imunológico não reconhece o vírus e, dessa
forma, não consegue combatê-lo adequadamente. A outra explicação é que ainda
não há uma droga para combater a doença nem vacina para preveni-la.
Os
casos mais leves e moderados da doença —que são a maioria— são tratados em
casa, com medicação usada para gripes.
A
questão é que os casos mais graves precisam de hospitalização por semanas e ajuda de
respiradores. Com o grande número de pessoas tendo contato com o
vírus pela primeira vez e ficando doentes ao mesmo tempo, o número de pessoas
que precisa de atenção médica cresce e os serviços de saúde não conseguem dar a
assistência adequada aos pacientes.
Começam
então as mortes.
É
importante frisar novamente: a Covid-19 ainda não tem cura. Tem se falado muito
(o que foi incentivado por Bolsonaro e pelo presidente americano Donald Trump)
que a hidroxicloroquina tem
efeitos positivos sobre o novo coronavírus. Não há, porém, qualquer literatura
científica sólida sobre o assunto. No momento, há estudos em curso (alguns
inclusive com a hidroxicloroquina) em todo mundo em busca de uma droga contra a
doença. Vitaminas e outras promessas milagrosas também não são a resposta.
3 -
NÃO É UMA DOENÇA SÓ DE IDOSOS
Os
dados até o momento mostram que a Covid-19 tem maior letalidade entre pessoas acima de
60 anos —a taxa de mortalidade acima de 80 anos passa de 14%.
Até os 50 anos, a mortalidade fica abaixo de 1%.
Mas
isso não quer dizer que jovens não peguem a doença e não necessitem de ajuda
médica.
Nos
primeiros 2.500 casos nos EUA, por exemplo, dos 508 pacientes que foram
internados, 38% tinham entre 20 e 54 anos, segundo dados do CDC (Centro de
Controle de Doenças dos EUA). Quase metade dos 121 pacientes que precisaram ir
para unidades de tratamento intensivo eram adultos de menos de 65 anos.
Um
quadro semelhante é visto na Coreia do Sul, que tem uma agressiva política de
testagem. A distribuição dos casos do novo coronavírus acompanha a proporção
das faixas etárias, exceto na faixa de jovens entre 20 e 29 anos de idade —13%
dos coreanos, mas 30% dos casos confirmados.
Fora
os registros de casos de pessoas jovens que são contaminadas (como um bebê de
três meses no Mato Grosso do Sul) e que eventualmente morrem (no Brasil, já há
casos de mortes de pessoas com menos de 40 anos com doenças associadas).
Isso
quer dizer que os jovens, além de potencialmente necessitarem de auxílio
médico, são transmissores.
4 -
TRANSMISSÃO OCORRE MESMO SEM SINTOMAS
As
pesquisas indicam que mesmo quem não tem sintomas ou
tem sintomas muito leves pode transmitir o vírus. O potencial de contaminação é
menor em relação a quem tem quadro sintomático mais marcante, mas, mesmo assim,
existe.
Um
estudo recente mostrou que 90% das pessoas doentes passaram despercebidas
quando ainda não havia restrições de viagens em território chinês.
O
mesmo estudo aponta que os casos documentados da Covid-19 provavelmente eram
mais eficientes para transmitir —provavelmente pelos sintomas mais intensos,
como tosse, e por produzirem mais vírus— mas os casos mais leves conseguiriam
passar o vírus com 55% da eficácia dos mais severos.
Isso
mostra que alguém que não sabe pode estar contaminado com o novo coronavírus e
transmitir para outros. Daí a importância do distanciamento social.
5 - O
ISOLAMENTO É FUNDAMENTAL
A
capacidade de transmissão mesmo sem sintomas ajuda a explicar a importância de
medidas rígidas, como quarentenas que impedem o funcionamento de comércio e
escolas e que, consequentemente, diminuem a circulação do vírus no território.
No
Brasil, Bolsonaro tem falado sobre isolar somente os grupos de risco da doença
(o que chama de “isolamento
vertical”), que são idosos (mais de 1 milhão de pessoas acima de 60
anos, segundo estimativas do IBGE) e pessoas com doenças associadas (como
câncer, problemas cardiorrespiratórios e diabetes, que sozinha tem mais de 16
milhões de doentes no Brasil).
O
Reino Unido chegou a tentar implementar medidas desse tipo, com orientações
para que maiores de 70 anos não saíssem de casa por quatro meses, proibição de
eventos públicos e incentivo para que as pessoas trabalhassem de casa quando
possível. A posição do primeiro-ministro, Boris Johnson, mudou após um estudo
apontar que, sem restrições mais amplas, o número de mortos no país poderia
chegar a 250 mil.
As
pesquisas têm caminhado nesse sentido e mostrado que medidas mais brandas de
distanciamento social ainda ocasionam um grande número de infecções e colocam
em risco o sistema de saúde —especialistas falam que é necessário achatar a
curva da epidemia, ou seja, evitar que haja um pico de contaminações em um
curto espaço de tempo.
Pesquisadores
da London School of Hygiene and Tropical Medicine estimam que as medidas
tomadas no epicentro da pandemia, a cidade de Wuhan, na província de Hubei, na
China, podem ter reduzido em até 92% a gravidade que a epidemia teria no meio
deste ano e em 24% a gravidade projetadas para o fim do ano.
A
quarentena incluiu fechamento de escolas, proibição de eventos públicos,
expansão do Ano Novo Chinês (o que evitava que as pessoas voltassem ao
trabalho) e a determinação para que a população ficasse em casa.
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