Planalto
sabotou combate ao coronavírus ao saber de projeção de 100 mil mortes
Bolsonaro
adotou desdém perturbador, investiu em tratamento duvidoso e sonegou
informações
Bruno Boghossian,
Folha de S. Paulo
Na
última sexta-feira de março, Jair Bolsonaro apareceu na TV e disse o que
pensava sobre o aumento de casos de coronavírus no país: "Alguns vão
morrer? Vão, ué. Lamento. Essa é a vida, é a realidade".
O presidente adotou a negligência como política oficial durante
a pandemia. O desdém se tornou a principal marca do desempenho ruinoso do
Brasil, que agora ganha contornos ainda mais perturbadores.
Ex-secretário
do Ministério da Saúde, o epidemiologista Wanderson Oliveira contou à repórter
Natália Cancian que o Palácio do Planalto foi avisado de uma projeção que
estimava em 100 mil o número de mortes por coronavírus em seis meses. Segundo
ele, os dados chegaram à cúpula do governo já em março.
Desde
o início, a equipe de Bolsonaro tinha elementos sobre a gravidade da doença.
Naquele mês, o presidente dizia que a Covid-19 faria menos de 800 vítimas. A
previsão fraudulenta desabou em três semanas.
Bolsonaro
sonegou informações e implantou uma sabotagem contínua às ações de combate à
pandemia. Demitiu um ministro e forçou a saída de outro. Quando o país bateu 30
mil mortes, não deu bola: "A gente lamenta todos os mortos, mas é o
destino de todo mundo".
O
governo também sabia que a cloroquina era um método duvidoso de tratamento, mas
estimulou o uso do remédio. O Exército estocou mais de 1 milhão de comprimidos.
Procuradores querem saber por que os insumos para o medicamento custaram mais
do que o normal.
Os
conflitos fabricados por Bolsonaro em torno das medidas de distanciamento,
defendidas pelos técnicos da área, ajudaram a empurrar o país para o buraco. "Perdemos um tempo precioso com
um debate improdutivo que acabou resultando numa confusão para a população
muito grande", afirmou Oliveira.
O
presidente liderou o país com a mesma habilidade do prefeito de Itabuna, na
Bahia. Nos últimos dias, o alcaide disse que abriria o comércio mesmo que os
casos na cidade disparassem, "morra quem morrer".
A insensibilidade tem limites https://bit.ly/2XxXGFo
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