19 julho 2021

O jogo e a vida

Futebol: palavra de quem sabe

Dentre os analistas do futebol na mídia brasileiura, certamente o ex-craque da seleção brasileiura e do Cruzeiro, Tostão, é o mais brilhante. Arguto, culto e atento à evolução tática analisa fatos, jogos e concepções em voga com muita competência. Da sua coluna na Folha de S. Paulo de domingo último transcrevo:

Enquanto na Europa muitos times são superiores às seleções de seus países, na América do Sul, todas as equipes são bastante inferiores às suas seleções. A razão é óbvia, a contratação dos melhores jogadores da América do Sul pelos europeus.

Nos retornos da Libertadores e da Copa Sul-Americana, os Zé Regrinhas ficaram eufóricos. Nunca houve tanta confusão para explicar as regras na marcação de pênaltis.

Nenhum time brasileiro perdeu na rodada das duas competições. O São Paulo, pelo empate em 1 a 1, em casa, contra o Racing, foi o que teve o pior resultado. Um 0 a 0 na Argentina classifica o Racing.

Os elencos das equipes brasileiras são, na média, muito superiores aos dos rivais dos outros países da América do Sul. Vários jogadores que atuaram na Copa América, por outras seleções, jogam no Brasil. Há uma realidade na Europa, que chega à América do Sul, de aumentar a vantagem técnica de algumas equipes por questões econômicas.

O São Paulo atuou, contra o Racing, sem vários titulares, como Daniel Alves, Miranda, Luciano, Reinaldo, Benítez e Rigoni. Achei estranho o técnico Crespo escalar, por opção técnica, Welington no lugar de Reinaldo, um dos mais regulares e destaque da equipe nos últimos anos.

Daniel Alves, na seleção olímpica, faz muita falta. Muitos não dão a ele essa importância. Acham que protagonistas são somente os que fazem gols e/ou dão o último passe para gol.

A queda técnica do São Paulo tem vários motivos, como a ausência de titulares, as contusões, o excesso de jogos e o fato de não ter poupado jogadores durante o Campeonato Paulista. Além disso, com frequência, no futebol, as vitórias estão sempre muito perto dos empates e das derrotas. O futebol é muito complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo, com nossas racionalizações. Os comentaristas adoram achar uma única causa que explique tudo.

Na vitória do Flamengo, fora de casa, sobre o Defensa y Justicia, por 1 a 0, houve muitas críticas ao time, desproporcionais, pelo fato de ter sido a estreia de Renato Gaúcho. Isso ocorreu porque a descaracterização da equipe foi tão visível, com o Flamengo acuado durante a maior parte do jogo e com pouca posse de bola, que assustou a todos. Há tempos, isso não acontecia.

O desenho tático contra o Defensa y Justicia foi idêntico ao que sempre usou o Grêmio, com quatro defensores, dois volantes em linha, um meia de ligação, um centroavante e dois pontas abertos, bem diferente do que o Flamengo jogou nos dois últimos anos. Renato Gaúcho sonha em fazer de Michael um grande ponta, driblador e eficiente, como teve, por muito tempo, no Grêmio.

Além da violência na final da Copa América, as partidas da Libertadores continuam tumultuadas, com muitas faltas, reclamações e agressões.

Se o ser humano, normalmente, já vive em frequente conflito entre seus desejos e instintos agressivos, imagine um atleta, especialmente os sul-americanos, na emoção de um jogo, após uma dura falta, ter de decidir entre revidar, agredir, e deixar para lá, seguir o jogo. É um atenuante, mas não é motivo para não ser punido. Somos responsáveis por nossos atos.

O filósofo Albert Camus, goleiro na Argélia e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, disse: "Tudo que sei sobre a moral e as obrigações devo ao futebol". Já o treinador de saltos ornamentais da Universidade de Stanford disse, certa vez, sobre o esporte de alto rendimento: "Se quiser desenvolver o caráter, vá fazer outra coisa".

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Veja: A literatura é uma agulhada da estupidez https://bit.ly/3xPr2yJ

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