Luciano Siqueira
Publicado no Blog da revista
Algomais
Verdade que a relação do homem com a morte ganha traços
diferenciados conforme as múltiplas culturas e crenças espalhadas mundo afora.
Os orientais têm fama de enfrentarem o inevitável fim da existência individual
com muito mais serenidade do que nós outros habitantes do hemisfério ocidental.
Aqui o indefectível evento é encarado dramaticamente.
Falta dizer que lá como cá sobre a morte se diz o que é
razoável e também disparates, sobretudo quando o ser falante ocupa função
pública e se deixa levar por rompantes inadequados.
Célebre é a afirmativa atribuída a Agamenon Magalhães “Quem
não puder viver, morra”, negada pelos seus biógrafos.
Na última segunda-feira, 21, em Tóquio, o ministro das Finanças japonês, Taro Aso, foi até mais enfático – e, segundo as agências de notícias, não pode negar o dito. Afirmou que deve ser permitido o idoso "apressar-se e morrer", ao invés de continuar, com sua indesejada (sic) existência, onerando o governo para cuidados médicos dispendiosos.
Ironicamente, Aso, que acumula o cargo de vice-primeiro
ministro, ostenta bem vividos 72 anos de idade, o que obviamente o inclui entre
os idosos. E não teve pejo em asseverar, em reunião do Conselho Nacional de Reformas
da Segurança Social: "Deus nos livre se você é forçado a viver quando você
quer morrer. Você não pode dormir bem quando você pensa que está tudo pago pelo
governo", completou. "Isso não vai ser resolvido, a menos que você
deixá-los se apressar e morrer", disse ele – segundo nota da Agência
France Press. E, talvez para tranquilizar os presentes, anunciou: "Eu não
preciso desse tipo de atendimento. Vou morrer rapidamente".
Faltou o indigitado e infeliz ministro esclarecer se
pretende encurtar sua infeliz existência mediante o suicídio, nem qual método
usará.
O danado é que seu país, o Japão, ostenta um quarto de sua
população, estimada em 128 milhões de viventes, justamente na faixa dos 60 anos
e mais.
No Brasil, os idosos somam aproximadamente 20 milhões.
Imagine se altas autoridades da República seguirem o exemplo do senhor Aso e
passarem a defender tese semelhante? Em matéria de atitude desastrosa, tudo é
possível, embora não creia que isso venha a acontecer entre nós. Mas, como gato
escaldado tem medo de água fria, apresso-me em concitar meus compatriotas de 60
anos e mais a nos unirmos em defesa prévia contra a tentativa de nos imporem o abreviamento
dessa coisa fantástica que é a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário