Luciano Siqueira
Publicado no Blog da revista Algomais
Antonio Maria certa vez escreveu que mereciam sua confiança os
bêbados e os poetas. Faltou ao cronista acrescentar: porém nem sempre. Bêbados
erram, poetas também.
Mario Quintana, poeta da sensibilidade e da leveza, entrou
numa tremenda contra mão ao recitar: “Desconfia dos que não fumam;/esses não
têm vida interior, não tem sentimentos./O cigarro é uma maneira sutil,/e
disfarçada de suspirar.”
Pode ser, poeta,
sinal de vida interior - mas não o único. Há muitas outras maneiras de curtir a
própria subjetividade, sem os efeitos danosos do tabaco. Aliás, o hábito de
fumar, dizem os estudiosos do assunto, surgiu na Inglaterra por volta de 1580 –
até então, a vida interior de que fala Quintana se expressava por outros meios...
Quantas canções,
quantos poemas, quantas cenas clássicas no cinema, quantas passagens marcantes
na litaratura?... O cigarro tem inspirado a arte ao londo tempo, conferindo
charme e estimulando a imaginação. Mas o danado é que mata muita gente.
Fumantes e não fumantes em ambiente contaminado pela letal fumaça, 3 milhões de
pessoas no mundo anualmente. Mais do que AIDS, acidendentes de trânsito, cocaina,
heroina, alcool e suicidios.
Um cigarro contém
cerca de 4.720 substâncias tóxicas, todas maléficas, e uma delas, a nicotina,
provoca dependência física e psicológica.
Segundo a PNDA
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 2008 o Brasil atingira a
marca de 24,6 milhões de fumantes contumazes nas faixas etárias a partir de 15
anos (17,2% da população nessa idade), dos quais 15,1% fumantes diários.
A dependência da
nicotina começa cedo. Aproximadamente 90% dos fumantes se sentem compelidos a
fumar dos 5 e os 19 anos de idade.
Os dados
epidemiológicos assustam. A organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima
que no Brasil o cigarro concorre para 30% das mortes por câncer (90% por câncer
de pulmão); 25% por doença coronariana; 85% por doença pulmonar obstrutiva
crônica; e 25% por AVC (acidente vascular cerebral).
Melhor não citar
mais dados assim tão tenebrosos. Até porque o tabagismo tem caído aqui e mundo
afora, na esteira da propaganda contra e de medidas restritivas.
Dado o recado, continua valendo a crença de que os poetas e
os bêbados – seres sinceros por natureza – continuam em alta em nosso conceito.
Assim como o sempre lúcido Quintana, que nos conduz na rica e prazerosa senda
da combatividade mesclada com a ternura e a alegria de viver.
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