Luciano Siqueira
Publicado no Blog da revista Algomais e no Jornal
da Besta Fubana
A certa altura da vida,
basta uma notícia fortuita para reacender lembranças de tempos idos, marcas na
memória cotejadas ao longo da estrada. Leio agora que as vendas do comércio
eletrônico brasileiro alcançaram o montante de R$ 24,12 bilhões em 2012, mais
29% do que o ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio
Eletrônico (ABComm).
O brasileiro compra cada
vez mais pela internet: roupas, acessórios, cosméticos e eletrodomésticos,
sobretudo.
Lembro que num delicioso
livro de viagem – Gato Preto em Campo de Neve – escrito por Érico Veríssimo em
1941, quando de uma excursão pelos EUA, li sobre a existência de coisas que
sequer conseguia imaginar. Meu horizonte pouco ultrapassava os limites da Lagoa
Seca, bairro de Natal, onde nasci e vivi até o meio da adolescência. (Mais
tarde, já no Recife, outro livro, este do jornalista Mauro Almeida, também
referente à vida nos EUA – Estados Unidos da América – civilização empacotada
-, voltaria a me impressionar). Tudo me parecia moderno demais, inatingível ao
nosso Brasil à época alvo de comentários depreciativos que ouvia na mercearia
de meu pai. – Isso nunca vai chegar aqui, diziam frequentadores mais assíduos,
mais dados à conversa do que à compra.
Pois hoje “tudo aquilo”
chegou cá em nossas terras. Revistas especializadas, ditas temáticas, tem pra
qualquer gosto e interesse: jardinagem, criação de felinos e cães, pesca e
muito etc. a perder de vista. As chamadas lojas de departamento de antigamente,
agora moderníssimos complexos plantados como âncoras nos chamados shopping
centers.
Daí não mais se
estranhar que nove milhões de brasileiros tenham feito sua primeira compra
online em 2012. A previsão é que, em 2013, se amplie consideravelmente o
consumo de bens digitais, como e-books, músicas e filmes “on demand”. Isso na
proporção direta da expansão das vendas de tablets e smartphones.
- Muita coisa mudou, meu
filho – dizia minha mãe diante da constatação de novas modernidades, que a surpreendiam
sempre.
Tem gente que se queixa
disso. Que preferiria os modos de compra antigos, na bodega da esquina e na
feira livre; ou, no máximo, pelo reembolso postal. E que encontra sempre um
veio por onde criticar as múltiplas facilidades advindas da tecnologia da
informação.
Cá com meus modestos
botões, prefiro saudar com entusiasmo tudo o que facilite os procedimentos
corriqueiros, quase automáticos, que a vida em grandes cidades nos impõe –
inclusive o indefectível ato de comprar. E, se possível, pegar carona nessa
onda, e com isso livrar mais tempo para velhos costumes – como de ler livros e
ouvir uma boa música e dar atenção à pessoas queridas. Se temos que correr
muito nesse mundo de competição, de obstáculos à livre locomoção e de perda de
tempo útil, pois que o façamos com a ajuda das modernas tecnologias e nos
locupletemos todos das horas que ganhamos de sobra.
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