30 janeiro 2013

Nem tudo o que reluz é ouro na cena política

A quem interessa semear o conflito?
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha
 
O conflito a que me refiro é entre partidos integrantes da base de apoio da presidenta Dilma. Especialmente entre o PSB e o PT e/ou o PMDB. Seja em torno da cabeça de chapa na próxima eleição presidencial, seja na ocupação da vice.

A discrepância de interesses partidários nesse aspecto até que existe, como é natural. Mas não na dimensão e no formato que se procura antecipar, tingindo a cores pesadas diferenças de opinião acerca de questões pontuais. Ou nem isso, uma vez que basta um líder de uma dessas agremiações aliadas opinar sobre o desempenho da economia em termos afirmativos para se concluir (sic) que se trata de divergência fadada a provocar uma futura dissidência em relação ao PT.

Nunca é demais repetir: partidos aliados, no governo ou na oposição, têm o direito e, mais que isso, o dever de expressar com nitidez a opinião sobre questões candentes – até como contribuição ao debate destinado a ajustar rumos e a aprimorar a unidade em torno os propósitos comuns. Unidade é algo vivo, multicolor – jamais cinza, engessada.

Ora, se assim é, conforme a vida tem comprovado desde antanho, por que analistas respeitados ocupam tanto espaço na mídia vendendo gato por lebre e prenunciando a divisão da coalizão governista? Porque se envolvem, conscientemente ou não, pelo esforço  dos órgãos a que pertencem de socorrerem os enfraquecidos partidos de oposição, anêmicos nas ideias e tresloucadas nos rumos.

Faça você mesmo o teste. Percorra os jornais e blogs editados no sul do País e os locais. Veja também os de outras regiões. Ouça o noticiário da rádio e da TV de sua preferência. Em pouco mais de uma hora você constatará essa coisa estranha: a pauta é a mesma, verdadeiro pensamento único de oposição, com raras diferenciações, é despejado sobre ouvintes, leitores, telespectadores e internautas. Assim, a intriga ganha ares de verdade e se semeia a impressão de que vem tormenta por aí e que uma dissidência pode ocorrer.

Tem mais: para completar os maus prenúncios, uma avalanche de previsões pessimistas sobre o desempenho da economia, na suposição de que se o PIB não crescer, a inflação fugir ao controle, o consumo cair e o emprego estagnar a presidenta Dilma sofrerá ameaças na provável candidatura à reeleição.

A estratégia é até bem urdida, mas esbarra na realidade concreta – esta sim, pesa na consciência e no estado de ânimo da maioria dos brasileiros, que experimenta melhoria em suas condições de existência. Entre a fantasiosa cantilena midiática e a experiência cotidiana, não vacila – e por isso dá respaldo à presidente e contribui, direta ou indiretamente, para que as forças governistas permaneçam juntas.

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