Drones moleculares
Dispositivos minúsculos permitem
que fármacos atinjam alvos específicos no organismo. Tecnologia é promissora
para o desenvolvimento de tratamentos contra o câncer, diz colunista da CH.
Angelo Cunha Pinto, na revista Ciência Hoje Online
Entre os grandes avanços atuais na área da química medicinal, um dos
destaques é o desenvolvimento de dispositivos extremamente diminutos, mas
altamente sofisticados, voltados à liberação controlada de fármacos para o
tratamento do câncer e de outras doenças infecciosas.
A construção desses dispositivos – ditos nanomoleculares, por sua
dimensão na casa do bilionésimo de metro – tem como objetivo fazer com que os
fármacos atinjam alvos específicos – à semelhança dos drones –, matando,
por exemplo, células cancerosas e poupando as sadias, diminuindo, assim, os
efeitos colaterais adversos de medicamentos que são eficazes, mas tóxicos.
Esses nanodispositivos também protegem os fármacos de degradações causadas por
enzimas, aumentando, dessa forma, o tempo dessas drogas no organismo.
Nanoválvula (em cinza
azulado) libera o fármaco (bolas vermelhas) somente quando as ‘portas’ (esferas
douradas com cones verdes) de seus reservatórios são ‘abertas’ pela acidez e o
oxigênio presentes nas células malignas. (ilustração adaptada do artigo).
Essas máquinas moleculares podem, por exemplo, ser nanoválvulas, dotadas
de reservatórios que podem ser ‘carregados’ com um fármaco. Um componente móvel
– que se abre e se fecha como uma porta – libera seu conteúdo ou interrompe seu
funcionamento, quando comandos químicos são aplicados (figura acima).
Recentemente, pesquisadores brasileiros da Universidade Federal
Fluminense e da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP), construíram
nanoválvulas à base do mesmo elemento químico que compõe os microprocessadores
e chips: o silício – mais especificamente, sílica (dióxido de silício).
Esses dispositivos – dotados de poros regulares de 3 a 6 nanômetros cada e
‘grande’ área superficial – não são tóxicos nem reagem com outras substâncias
presentes no organismo.
As nanoválvulas são, de fato, sistemas de liberação de fármacos
promissores
Na superfície desses dispositivos, foram introduzidas as chamadas
funcionalizações químicas – no caso, fazendo o papel de porta para cada poro.
Os componentes das nanoválvulas foram planejados para que essas portas se abram
na presença de oxigênio molecular em meio ácido, tendo em vista o ambiente
ácido de vários tumores.
Depois de carregarem os reservatórios das nanoválvulas com um fármaco
(cloridrato de doxorubicina) usado no tratamento de certos cânceres, os
pesquisadores brasileiros investigaram a eficiência desses nanodispositivos. Um
desses experimentos mostrou que o fármaco foi liberado com sucesso no interior
de células de câncer de pele de camundongos, fazendo com que a ação dessa droga
fosse potencializada.
Esses resultados – publicados no periódico Microporous and Mesoporous
Materials (v. 206, pp. 226-233, 2015) por Gleiciani Silveira, Roberto da
Silva, Lilian Franco, Maria Vargas e Célia Ronconi – mostraram que as
nanoválvulas são, de fato, sistemas de liberação de fármacos promissores cujo
estudo poderá levar a avanços no tratamento do câncer.
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