Luciano
Siqueira, no Blog da Folha
Todo o processo de impeachment da presidenta Dilma
até o ponto atual, que antecede a votação definitiva no Senado, tem sido
marcado por uma multiplicidade de falácias e uma inglória tentativa de esconder
o "x" da equação golpista.
Mas os
fatos falam bem mais alto.
Quanto
ao processo de impeachment, todo o tipo de artimanha e argumento foram
esgrimidos para tentar demonstrar que a presidenta cometeu crime de
responsabilidade. Sem êxito. As chamadas "pedaladas fiscais" jamais
configuraram crime.
Mais: o
contraste entre a composição "bichada" da Câmara dos Deputados -
revelada à luz dos holofotes na votação da admissibilidade do impeachment - com
a impossibilidade de flagrar a presidente em crime converteu-se em divisor de
águas diante de crescentes parcelas da população brasileira e da quase unanimidade
da mídia internacional.
O
Brasil, que vinha ostentando prestígio por uma redemocratização bem sucedida,
torna-se uma gigantesca republiqueta de bananas!
No
âmbito político propriamente dito dos argumentos golpistas, o aceno em favor de
uma desejada estabilidade, do combate definitivo à corrupção e da retomada do
crescimento econômico - peças presentes no discurso de respeitáveis aderentes à
trama - viraram pó em apenas 18 dias de governo interino ilegítimo.
Tempo
recorde para a queda de dois ministros.
Lapso
de tempo emblemático para a frustração do ajuste fiscal negado a Dilma, mas prometido
por Temer-Meireles, e para a ênfase nos ataques aos direitos sociais conquistados
na última década e meia.
Tudo à
luz do dia e sobre terreno minado - no parlamento, na mídia, no onipotente
"mercado" e, sobretudo, ao olhar dos brasileiros e brasileiras, antes
perplexos e agora gradativamente indignados.
A queda
do ministro da "Transparência" e a recomposição atabalhoada do MinC
se deram por pressão popular (em combinação com o noticiário negativo). Vale
dizer: a pressão das ruas dá resultados.
Agora,
quando se aproxima o desfecho do impeachment no Senado, cumpre manter a pressão
social e sensibilizar parte dos senadores que apoiaram a admissibilidade para
que agora se recomponham com a ordem democrática e o bom senso, interrompendo a
farra Temer-Cunha e restabelecendo o governo constitucional de Dilma. Basta que
os golpistas não somem dois terços dos votos.
Isto
posto, se assim vier a ocorrer, uma página poderá ser virada e, com o concurso
da própria presidenta, via plebiscito, se antecipem as eleições presidenciais.
Pode
não ser uma saída perfeita – porém uma tentativa legítima de superação da
crise.
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