André Singer, na Folha de S.
Paulo
O relativo otimismo que qualquer novo
governo provoca no cidadão médio vigorou menos de 15 dias. Na décima jornada, a
vilegiatura de Michel Temer foi atingida por bomba revelada pela Folha. As gravações premiadas
do peemedebista Sérgio Machado, depois complementadas pela Globo e acrescidas
da delação de Pedro Corrêa, ex-presidente do Partido Progressista (PP), na
"Veja", atingem o coração do poder.
Aninhado na cúpula do PMDB, o ex-tucano
Machado tem informações capazes de comprometer todos os homens do presidente.
Mais ainda, deve conhecer em detalhes o esquema de financiamento do partido, o
qual parecia passar por certo diretor da Petrobras, supostamente indicado pelo
atual ocupante do Planalto.
A derrubada do ex-ministro do
Planejamento Romero Jucá, personagem central do gabinete temerário, constitui
apenas o aperitivo da investigação. O roteiro completo estava, aliás, anunciado
em reportagem de "O Estado de S. Paulo" três semanas atrás (8/5).
Nela, se anunciava que depois de desbaratar o esquema de arrecadação do PP e do
PT, chegara a vez de a Lava Jato fazer o mesmo com a sigla outrora comandada
por Ulysses Guimarães.
Não se trata, portanto, de evidenciar
apenas o envolvimento de figuras célebres como o presidente do Senado, Renan
Calheiros, ou do ex-presidente da República José Sarney em diálogos algo
assustados (e assustadores). Os procuradores buscam provas palpáveis de desvio
de recursos públicos. Caso as consigam, a carceragem será o destino possível
dos acusados.
Exatamente por conhecer tais planos,
talvez tenha Machado decidido soltar as fitas, como se diria em linguagem
antiga, de modo a evitar a própria prisão. Gravadas em fevereiro/março passado,
funcionavam como recurso para a hora do aperto, que chegou. O quanto a
divulgação interessava também aos investigadores é difícil avaliar.
Seja como for, dois elementos precisam,
a esta altura, ser registrados. O primeiro é que a Lava Jato, em seus óbvios
cálculos políticos, não se voltou apenas contra o PT. Quando for feito o
balanço da seletividade utilizada pelos que dirigem o processo — um emaranhado
de personagens, do qual agora se destaca o procurador-geral Rodrigo Janot —
será mister reconhecer o estrago também realizado na governança peemedebista.
Em segundo lugar, as chances de
aprovação no Congresso das medidas neoliberais anunciadas por Henrique
Meirelles terça-feira (24), às quais se somariam a reforma da Previdência e a
flexibilização da CLT, diminuem à sombra das suspeitas lançadas nesta semana.
Se, em condições normais de temperatura e pressão, parlamentares resistem votar
medidas impopulares, maior será a dificuldade com a polícia no encalço dos
proponentes
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