Há sentido num encontro do legítimo com o ilegítimo? Esta pergunta
deveria ter sido feita pelos dirigentes das quatro centrais sindicais que
atenderam ao chamado de Michel Temer, que ocupa a presidência da República.
José Carlos Ruy, no portal
Vermelho
Eles foram a Brasília, para uma reunião convocada por Temer. Mas não
houve unanimidade entre as centrais, e só quatro delas compareceram para, de
acordo com o que foi divulgado, conversarem com Temer e Henrique Meireles, que
ocupa o ministério da Fazenda, sobre a anunciada reforma da Previdência. Os
sindicalistas que aceitaram falar com Temer são Antonio Neto (CSB), José Ramos
(NCST), Ricardo Patah (UGT) e Paulinho da Força (Força Sindical). A Central
Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil (CTB) rejeitaram o convite do presidente ilegítimo e não compareceram à
reunião.
A convicção da ilegitimidade de Temer à frente da presidência da
República se espraia pelo Brasil e mesmo setores da população que haviam
apoiado a queda de Dilma Rousseff já mostram inquietos, ante as primeiras
medidas anunciadas pelo grupo golpista que ocupou o governo. Isso foi visto com
clareza na noite deste domingo (15), no panelaço que tom ou as capitais e
grandes cidades brasileiras, durante a entrevista de Michel Temer no programa
Fantástico, na Globo.
Foi uma ruidosa demonstração da ilegitimidade e da disposição popular de
lutar pelo “Fora Temer”.
Houve sindicalistas que defenderam, veementemente, a ida à reunião.
Argumentaram ser necessário negociar, lembraram o momento delicado que ameaça
nestes dias o sindicalismo e os riscos que os trabalhadores correm,
representado pelas medidas anunciadas pelo governo golpista. E supõe que a
negociação com Temer e Meireles pode atenuar essas ameaças.
Há aqueles que, centrados fortemente em argumentos apenas sindicalistas,
minimizam a ação política e pensam que a abertura de negociações com o governo
ilegítimo será capaz de apontar para a manutenção das conquistas alcançadas nos
governos de Lula e Dilma. Acreditam que podem obter, de Temer, uma correção de
rumos em relação às medidas restritivas já anunciadas?
Há o argumento pela abertura de negociações com o governo, embora
ilegítimo, segundo o qual, caso todas as centrais sindicais comparecessem à
reunião, Temer ficaria estarrecido, e poderia talvez mudar de oposição!
Esse argumento apenas sindicalista deixa de compreender a importância da
luta política. Luta que não se dá nos corredores dos palácios de governo, mas
nas ruas. Esse argumento, sindicalista, não compreende ou minimiza a dimensão
política da luta de classes, de resistência contra o golpismo da direita.
É preciso reconhecer, e levar às últimas consequências, a convicção de
que um dos principais alvos do golpe dirigido por Temer e Eduardo Cunha são os
trabalhadores e suas organizações, como os sindicatos, as centrais sindicais, e
os partidos e forças da esquerda.
É preciso reconhecer, e levar às últimas consequências, a convicção de
que este foi mais um golpe promovido pela direita brasileira – uma ação de
classe -que opõe duramente a elite muito rica, aos trabalhadores e ao povo
brasileiro.
A expressão dessa contradição de classes é política, além de ser também
sindical. São dimensões inseparáveis e elas não serão solucionadas nos salões
do governo golpista. Mas nas ruas, com a mobilização do povo e dos
trabalhadores e a exposição pública do programa que defendem – programa que
jamais será aceito pela direita conservadoras e neoliberal que tomou de assalto
o governo brasileiro.
O próprio resultado deste encontro entre sindicalistas e representantes
do governo ilegítimo revela como o objetivo da reunião foi criar a imagem, que
a mídia golpista se encarrega de divulgar, de moderação e disposição para
negociar por parte do governo ilegítimo. O próprio resultado da reunião revela
esse objetivo – depois de um encontro que não durou nem meia hora, foi decidida
a criação de um grupo de trabalho para negociar os termos da reforma da
Previdência que esse governo quer impingir aos trabalhadores. Com a vantagem,
para Temer, de criar uma imagem de negociador para ser divulgada a seu favor!
Usando a linguagem que os sindicalistas entender, aquelas centrais colocaram
uma azeitona na empada do governo golpista!
A visita daqueles sindicalistas a Temer não contribui, ao contrário do
que pensam, para fazer avançar a luta dos trabalhadores. É necessário, nesta
hora, fortalecer a resistência popular, denunciar o golpismo, difundir o
programa que garante os direitos dos trabalhadores e do povo, e aumentar a
pressão sobre o Senado, que tem em suas mãos a chance de restabelecer o governo
Dilma Rousseff, em novas condições e com nova base social, e colocar um ponto
final na aventura golpista. E isso não será feito comparecendo a reuniões nos
palácios do governo ilegítimo e com a negociação entre entidades sindicais
legítimas com um governo ilegítimo.
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