Falta mais um grande
craque do meio para frente na seleção de Tite
Tostão, Folha de
S. Paulo
Li um ótimo artigo de Teodoro Rennó Assunção, professor de
literatura grega antiga, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de
Minas Gerais, "Breve nota sobre o tempo trágico do futebol".
Resumindo, ele escreve sobre as inúmeras possibilidades que costumam ocorrer
durante um jogo, uma representação da vida humana. Essa indefinição,
indeterminação, permanece aberta e somente se estabiliza com o apito final ou a
morte.
Assim como o acaso costuma ser tratado no futebol,
principalmente pelos operatórios, racionais, como algo insignificante, as
previsões políticas e econômicas geralmente não acontecem como esperado,
porque, quase sempre, existem novos fatos, ocasionais, diferentes dos
anteriores, como o corona, o vírus
do momento, a bola da vez.
A sociedade do espetáculo, os acasos, as incertezas sobre o
resultado das partidas e mesmo as atuações das equipes influenciam, mudam as
análises, que se tornam diferentes a cada partida, para cima ou para baixo.
Jogadores, treinadores e times são vistos como heróis, quando ganham, e vilões,
quando perdem, excelentes ou péssimos. É tudo ou nada.
A desconfiança e as duras críticas às equipes brasileiras, antes
de começar a fase de grupos
da Libertadores, ainda mais que os investimentos são, com
frequência, infinitamente superiores aos dos adversários, transformaram-se em
grandes elogios, após a primeira rodada, com seis vitórias e apenas uma
derrota, a do São Paulo, que não foi surpreendente, por causa da enorme
influência da altitude.
Dos times brasileiros, a vitória mais contundente, com nítida
superioridade, foi a do Inter, por 3 a 0, em casa, sobre o Universidad
Católica, do Chile. O técnico Coudet aceitou
as críticas e mudou a equipe, ao trocar o volante Lindoso por mais um atacante,
Thiago Galhardo. Com isso, o volante Musto, que estava jogando como um terceiro
zagueiro, passou a ser o volante centralizado. Guerrero, que estava isolado,
teve dois companheiros e foi o destaque da equipe.
Além disso, a equipe pressionou desde o início, em todo o campo,
no estilo explosivo de Coudet, como atuavam as equipes dirigidas pelo técnico,
antes de ele assumir o Inter.
FALTA UM DE BRUYNE
Gostei da convocação
de Tite.
Após a Copa de 2018, o que já acontecia passou a ser marcante, a presença de
vários bons jogadores, de nível técnico parecido, em quase todas as posições.
Falta, pelo menos, mais um grande craque do meio para frente.
Prefiro, em vez de dois meias de ligação (Everton Ribeiro e
Coutinho), um meio-campista que jogue de uma intermediária à outra, como
Gérson. Se Rodrigo Caio tiver boas condições, acho também que seria melhor que
Militão. Se, em vez de 24, fossem chamados 23, como é habitual, quem sairia?
Não sei. Teria de ser um dos atacantes convocados, Bruno Henrique, Gabigol,
Richarlison e Everton. Daniel Alves tem jogado muito bem no meio-campo, mas a
seleção precisa mais dele na lateral. Não há um bom reserva.
Desde o Mundial, Tite não define bem os posicionamentos de
Coutinho, mais recuado, formando um trio no meio-campo, ou mais adiantado, como
um meia ofensivo, e o de Neymar, pela esquerda ou mais centralizado, na posição
de Coutinho.
Se eu estivesse presente na convocação, perguntaria a Tite se
ele ainda sonha com a Bélgica. Todas as suas respostas voltam à Bélgica. Mais
importante que um psicanalista para ajudá-lo seria De Bruyne no time.
[Ilustreação: Joan Miró]
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