“Eleição não
é questão de aritmética, mas de dialética'', diz vice-prefeito do Recife
Luciano Siqueira (PCdoB) ao avaliar cenário eleitoral do Recife*
Em entrevista ao JC, uma das principais lideranças do PCdoB, revela a
hipótese do partido em lançar candidatura própria no Recife, apesar de defender
a unidade da Frente Popular
Mirella Araújo
No dia primeiro de janeiro de 2021, nas redes sociais, logo
cedo, direi: bom dia, volto a ser cidadão comum, mas continuarei sendo um
entusiasta militante”. A afirmação do vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira
(PCdoB), que no fim de 2020 completa o seu quarto mandato (2001 a 2008 e 2012 a
2020) no cargo de vice-prefeito da capital Pernambucana, é para explicar que
apesar de estar focado em concluir a administração junto com o prefeito Geraldo
Julio (PSB), não tem planos de deixar de atuar na política, mesmo não sendo
candidato. “Quando o prefeito e o vice-prefeito não brigam, o vice trabalha
muito. Nunca briguei com Geraldo e nem com João Paulo, sou beneficiário da
generosidade de ambos e por isso trabalho muito”, declarou.
Em entrevista ao JC, o
comunista avaliou como positivo os oitos anos do PSB à frente da Prefeitura do Recife e
explicou qual será o papel do PCdoB na disputa municipal, sem desconsiderar
inclusive, uma candidatura própria. Em Olinda, Siqueira disse que ainda não há
definição em torno do nome do ex-prefeito e deputado estadual João Paulo, mas
que ele tem sido “citado com animação” em outros municípios da Região
Metropolitana do Recife.
JORNAL DO COMMERCIO - Como o senhor avalia esses quase
oito anos à frente da Prefeitura do Recife ao lado do prefeito Geraldo Julio
(PSB)?
LUCIANO SIQUEIRA - No final do ano
passado, nós fizemos um balanço sobre os sete anos de governo, que considero
ser muito positivo. Sobretudo, porque há de se considerar que dentro desse
período, são mais de quatro anos de crise financeira nacional e com
repercussões drásticas sobre as finanças dos municípios. Recife não foi
exceção. Além desta crise financeira, nós tivemos que enfrentar dois anos da
gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e agora temos o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido), que repercute também em corte de gastos e transferências
federais para os municípios em diversas áreas. Os recursos que chegam, vêm a
conta gotas. A despeito disso tudo, os resultados destes sete anos do nosso
governo foram excepcionais. Neste último ano, não há a menor possibilidade de
desaceleração. Nós fizemos um levantamento e temos 1.500 inaugurações para
fazer neste primeiro semestre. Não é fácil, em uma época de crise, alcançar
esse feito tão expressivo, e eu quero crer que a população faz esse
reconhecimento.
JC
- Sobre o cenário eleitoral do Recife, qual será o papel do PCdoB?
SIQUEIRA - O PCdoB segue uma
orientação tática nacional, que aponta a absoluta necessidade de diluir forças
e isso vale para todo o País, para todas os municípios. O nosso ponto de
partida é sempre examinar as possibilidades, sejam em torno de uma candidatura
própria do PCdoB ou da candidatura de outro partido aliado. Isso vale para o
Recife. Neste caso, é natural que o partido que detém a hegemonia no Recife,
que é o PSB, indique aos demais partidos, um nome. Um nome que se comprometa a
liderar a resistência em defesa da democracia ameaçada pelo governo Bolsonaro.
O que não se discutiu ainda oficialmente com o PSB é que nome será este. Nós
procuraremos unir forças. Agora, como na política não se trabalha como
uma única alternativa, nós sempre nos preparamos para outra hipótese, que seria
a hipótese do próprio PCdoB ter candidatura própria a prefeito. Você sabe que
nestas eleições não há mais coligação para a chapa proporcional para vereadores e
vereadoras. É natural que os partidos que, por ventura, não apresentem um
candidato ou candidata a prefeito, na composição da aliança, tenha suas
próprias pretensões a eleição de uma bancada própria de vereadores e
vereadoras. E o PCdoB não tem como primeira hipótese apresentar candidatura a prefeito,
mas apoiar a Frente Popular, então se espera que suas pretensões em relação a
Câmara Municipal do Recife sejam levadas em conta. A eleição não é uma questão
de aritmética, mas de dialética, tem que levar em conta as pretensões de todos
os aliados.
JC - No campo da esquerda, estão sendo cogitadas as
pré-candidaturas de João Campos pelo PSB, Marília Arraes pelo PT e Túlio
Gadelha pelo PDT, o senhor é a favor de múltiplas candidaturas para enfrentar o
bloco de oposição?
SIQUEIRA - No caso do Recife,
o ideal é que no nosso campo da Frente Popular tenha apenas uma candidatura,
pois penso que a unidade seria o mais adequado. E essa unidade teria que ser a
mais ampla possível. O cenário político eleitoral ainda está em formação, só
agora passando o Carnaval é que as coisas começam a acelerar. Provavelmente nas
grandes capitais, o campo de força que faz oposição ao governo Bolsonaro tende a unidade. Quando essa unidade não for possível no primeiro turno, ela pode ser
construída no segundo turno. No caso particular do Recife, seria melhor que
essa unidade fosse formada desde o primeiro turno.
JC - Como tem sido feito entre o PT e o PCdoB? O senhor foi
vice-prefeito de João Paulo por dois mandatos à frente da Prefeitura do Recife,
e hoje os petistas encontram-se divididos entre lançar a deputada federal
Marília Arraes e permanecer na Frente Popular.
SIQUEIRA- Nós sempre nos
relacionamentos muito bem com o PT, estejamos no mesmo palanque ou não. Até
agora não tivemos sinalização por parte dos companheiros do PT de que venha a
predominar a tese de uma candidatura própria no Recife, mesmo considerando que
a deputada federal Marília Arraes já tenha anunciado essa pretensão. Vamos
aguardar até julho quando se darão as convenções e todas as discussões serão bem
tratadas. Embora predominem as sinalizações de que o PT opte pela unidade já no
primeiro turno, não é algo que se possa afirmar.
JC - O nome do ex-prefeito do Recife e deputado estadual, João
Paulo, tem sido levantado quando se trata da corrida eleitoral em Olinda. O
senhor defende o nome dele ou de outro quadro do partido para o pleito na
cidade?
SIQUEIRA - O PCdoB tem dados
em Recife, Olinda, Jaboatão principalmente, como também no Cabo de Santo
Agostinho e em Paulista, quando João Paulo é citado, não só a militância do
PCdoB se anima, mas os aliados de diversos partidos levantam a hipótese da sua
candidatura. Embora tenha sido deputado federal e agora deputado estadual pela
quarta vez, tendo sido candidato ao Senado duas vezes, as pessoas sempre o veem como prefeito. Agora, nós cuidamos desse assunto com muito carinho. Se
aliados de diversos partidos manifestam desejo de tê-lo candidato, nós temos
que ouvir bem, com cautela, levar em consideração a hipótese e não nos
precipitarmos O nome de João Paulo ou qualquer outro em qualquer município,
sempre estará com hipótese de unidade mais ampla, não decidimos sozinhos.
Luciana (Santos) tem conversado muito com os demais partidos, lideranças e
segmentos da sociedade. João Paulo pode ser candidato a prefeito? Pode, mas não tem
nada definitivo.
JC - Como o PCdoB pretende se estruturar em outros
municípios nestas eleições?
SIQUEIRA - Queria sublinhar que nós defendemos a unidade. Seja em torno do candidato do próprio PCdoB ou de
outro partido. Pensando a nível nacional, nós temos ousado ao apresentar
pré-candidaturas tanto nas capitais quanto nas grandes cidades. Essas
candidaturas não disputarão sozinhas, mas com aliados do campo democrático
progressista. Nós temos o deputado Orlando Silva, pré-candidato a prefeito em
São Paulo. Brizola Neto pré-candidato no Rio de Janeiro e Manuela D’Ávila como
pré-candidata em Porto Alegre. Só não apresentamos candidatura quando ela, já
de início, pode vir a ser um fator de divisão e dispersão de forças que podem
vir a se unirem. Mas a orientação geral é essa, de formar chapas competitivas e eleger o
maior número de vereadores e vereadoras.
JC - Quais serão os reflexos
trazidos das eleições de 2018 para o pleito local em 2020?
SIQUEIRA- As eleições no
Recife, tradicionalmente, são as mais politizadas do País. Politizadas no
sentido de que não apenas se debate os problemas locais, mas também - em maior
ou menor grau - se debate questões nacionais. Acho que ainda não está claro,
mas provavelmente o fator Bolsonaro terá importância na eleição do Recife,
tanto no sentido de que a extrema direita, sua principal base de apoio, pretenda
ter candidatura que expresse suas opiniões extremadas de combate do estado de
direito democrático, em defesa de um regime autoritário. Quanto da parte de
oposição ao governo Bolsonaro, seja possível que a defesa da democracia
ameaçada pelo atual presidente, venha a contribuir para a unidade. Agora, penso
que é quase inevitável o entrelaçamento das questões locais e questões
nacionais.
JC - O PCdoB lançou recentemente o Movimento 65. O
nome dessa plataforma seria uma forma de distanciar um pouco do nome do Partido
Comunista do Brasil?
SIQUEIRA - De jeito nenhum. O
Movimento 65 é uma atitude muito generosa do PCdoB no sentido de abrigar e
oferecer legenda. A lei eleitoral obriga que cada candidato ou candidata se
inscreva em um partido para poder disputar as eleições. Na percepção da crise
atual do País, esse movimento é para pessoas que reconheçam no PCdoB um partido
sério, unido e que respeita às diferenças. Então nosso objetivo é exatamente
deixar confortável as pessoas que, embora não estejam plenamente identificadas
com o estatuto do partido, confiam no PCdoB, e estão debaixo desse guarda-chuva
que sinaliza para um aglomerado de democratas e lutadores, não necessariamente
comunistas. Todos sabem que o Movimento 65 foi lançado pelo PCdoB e todos
aqueles que se dispuserem, se candidatando pela legenda. Recebo muitas pessoas
no Recife, que me procuram com a pretensão de disputar as eleições. Tenho
notado interesse crescente pelo Movimento 65. Queremos lançar uma chapa
com 54 candidatos, sendo 30% desse total composta por mulheres. Parte
expressiva dessa chapa será formada por pessoas que se sentiram motivadas pelo
Movimento 65.
*Correções de erros de digitação na versão original por minha conta.
*Correções de erros de digitação na versão original por minha conta.
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