Dom Pedro Casaldáliga partiu
O bispo defensor dos povos indígenas e trabalhadores rurais morreu aos 92 anos
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Faleceu na manhã deste sábado, Dom Pedro Casaldáliga, Bispo
Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso), Missionário
Claretiano e um dos mais importantes defensores da Teologia da Libertação. O
anúncio foi feito em nota conjunta da Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato
Grosso, Brasil), da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de
Maria (Claretianos) e da Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos). Dom Pedro
estava hospitalizado desde terça-feira (4), na Santa Casa de Misericórdia de
Batatais, no interior de São Paulo em razão do agravamento de seu estado de
saúde.
A nota de falecimento informa
ainda que ocorrerão três velórios do corpo de Dom Pedro Casaldáliga. O primeiro
será em Batatais, a partir das 15 horas na capela do Claretiano – Centro
Universitário de Batatais. A missa de exéquias será celebrada no domingo (9),
no mesmo endereço acima e será aberta ao público em geral, além de ser
transmitida ao vivo pelo link https://youtu.be/spto8rbKye0. O link estará
aberto para que outros veículos de comunicação possam retransmitir.
O segundo velório ocorrerá em
Ribeirão Cascalheira (MT) no Santuário dos Mártires, a partir do dia 10 de
agosto, sem previsão de horário de chegada do corpo. E por fim, o terceiro
velório será em São Félix do Araguaia (MT), no Centro Comunitário Tia Irene. O
sepultamento será em São Félix do Araguaia.
Teólogo da libertação
Nascido Pere Casaldáliga i Pla
na Catalunha, há 92 anos, Pedro Casaldáliga foi um dos maiores defensores e
propulsores da Teologia da Libertação no Brasil, mas não se limitou a ser
bispo. É poeta, tem veias jornalísticas e atuou ativamente contra a ditadura.
Ajudou a defender uma população pobre, esquecida, ameaçada pelo latifúndio e
reprimida pelo Estado militar em uma cidadezinha do interior brasileiro.
A sua vida foi relatada na
biografia “Um bispo contra todas as cercas”, da autora Ana Helena Tavares,
lançada em 2019. A obra resgata a vida do clérigo desde seus dias como Pere
Casaldáliga (seu nome de batismo), até transformar-se em Pedro, bispo da
Prelazia de São Félix do Araguaia – um lugar escondido no estado do Mato Grosso
que teria destaque nacional pela chegada do espanhol.
Ao tornar-se bispo, Dom Pedro não perdeu tempo para relatar o
que via na região – uma predominância do latifúndio sobre a vida e a exclusão
dos cidadãos das tomadas de decisão das próprias terras e vidas.
Foi dele a primeira denúncia
por trabalho escravo contemporâneo que repercutiu internacionalmente no início
da década de 1970, como lembrou o jornalista Leonardo Sakamoto, autor do livro
“Escravidão Contemporânea (2020).
Escreveu uma carta pastoral
aberta intitulada “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a
marginalização social”, que alçou voos, alcançou Leonardo Boff, José Oscar
Beozzo e outros teólogos, e firmou naquele ponto do mapa uma movimentação
importante de ideais para a Igreja Católica brasileira.
Se os nomes de Julio Lancellotti, Frei Betto e Dom Paulo
Evaristo Arns são projetados até hoje como referências para a discussão de
direitos humanos na Igreja Católica, Pedro Casaldáliga não fica atrás. Por
muitas vezes, esteve na vanguarda da linha de fogo. “Na década de 70, a
percepção da dimensão da figura do Pedro era outra. Ele teve uma projeção
nacional e internacional muito grande”, diz Ana Helena Tavares, que se
encontrou com o bispo em São Félix do Araguaia algumas vezes no processo de
escrita da biografia. “Ele é uma pessoa que se preocupou em dar divulgação ao
que fazia”.
A relevância dada à informação
em tempos de censura fez com que Casaldáliga estivesse na lista de mais
censurados do jornal O Estado de S. Paulo entre
1972 e 1975, mas não o impediu de denunciar as vezes em que foi amordaçado em
cartas para os bispos. “Como é bom ser perseguido pela causa do Evangelho,
da Justiça e da total Libertação!”, escreveu, na ocasião em que foi submetido a
um cárcere privado em uma das quatro vezes que a prelazia teve intervenção de
militares.
Para a autora, a escrita do
livro vai contra “um Brasil que não cultua a memória”. Tavares acredita que
resgatar a imagem de Pedro, mesmo depois de quase 15 anos de sua aposentadoria,
é relevante para reverter o processo vigente de ódio no país. Os diversos
depoimentos de pessoas que conviveram, admiraram e seguiram dom Pedro também
evidenciam essa necessidade.
Casaldáliga, que também sofria de mal de Parkinson, vivia
acamado em São Félix do Araguaia. ““Ser o que se é / Falar o que se crê / Crer
no que se prega / Viver o que se proclama / Até as últimas consequências”.
(Com informações da Prelazia de
São Félix do Araguaia e da CartaCapital)
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