06 agosto 2020

Um intérprete da Natureza


111 anos de Burle Marx, do Recife para o mundo
Janaina Granja*

Um multiartista, adjetivo adequado para traduzir Roberto Burle Marx, foi designer de joias, artista plástico, pintor, escultor, ceramista, tapeceiro e consagrado mundialmente como paisagista.
Nasceu em São Paulo, no dia 4 de agosto de 1909. Seu pai era Wilhelm Marx, um judeu alemão que comercializava couro, e sua mãe se chamava Cecília Burle, uma pernambucana descendente de franceses.
Seu amor pela vegetação brasileira surgiu a partir de uma visita ao jardim botânico de Belim, lugar que morou por um tempo por conta de um tratamento de visão, nas estufas do jardim ele conheceu, mais intimamente, as espécies do Brasil. Essa passagem pela capital alemã foi um período marcante na vida de Roberto Burle Marx, inspiração para seu trabalho de paisagista. É dele a frase “Gostaria que os que viessem depois de mim pudessem, pelo menos, ver alguma coisa que lembrasse o país fabuloso que é o Brasil do ponto de vista botânico, dono da flora mais rica do Globo”.
O inicio desse trabalho se deu a partir de um convite de Carlos de Lima Cavalcanti, então governador de Pernambuco, para chefiar o setor de Parques e Jardins do Estado de Pernambuco, cargo ocupado no período de 1934 a 1937. No Recife, sua lista de obras é extensa e inclui grandes marcos urbanos, onde assinou em torno de 40 projetos entre públicos e privados.
A cidade tornou-se referência no estudo da paisagem no Brasil, onde Burle Marx projetou os primeiros jardins e espaços de convivência na linha modernista. Seu primeiro jardim público,construido em 1935, a praça de Casa Forte, no bairro de mesmo nome, é um projeto que transmite as preocupações ecológicas e estéticas, reunindo as espécies da mata atlântica, amazônica e plantas exóticas.
Dentre os jardins públicos, seis foram tombados, a Praça de Casa Forte, a Praça Faria Neves, a Praça Euclides da Cunha, a Praça do Derby, a Praça Salgado Filho e Praça da República e Jardins do Palácio do Campo das Princesas. Os projetos públicos estão protegidos por lei e tratados como Jardins Históricos. O Sistema Municipal de Unidades Protegidas, instituído através da Lei 18.014/2014, em seu artigo 29, define Jardim Histórico como uma composição vegetal que, do ponto de vista da história ou da arte, apresenta um interesse público, sendo, como tal, considerado um monumento. Na concepção de Burle Marx “o jardim é a natureza organizada subordinada às leis arquitetônicas” (Marx, 1935). Esse legado faz de Recife uma cidade que dialoga com o mundo, seja na linha de pesquisa ou do turismo. E desde 2009, a cidade celebra no mês de aniversário de um dos maiores paisagistas do século XX a Semana Burle Marx, instituída por lei com objetivo de dar visibilidade aos trabalhos de Burle Marx e desenvolver ações de educação patrimonial.
*Janiana Granja é assistente social, pós-graduada em política ambiental. Integra do gabinete do vice-prefeito do Recife
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