João Mamede, no blog O Duplo
Era difícil jogar futebol na escola. Geralmente ninguém levava bola – as
mães tinham medo que elas fossem perdidas e a direção não era flexível em
permitir que os alunos trouxessem de casa. Na sexta-feira, porém, estávamos
liberados pra levar brinquedos e não perdíamos a oportunidade de pedir para o
Arthur – amigo rico babaca da sala – trazer a bola dele, que,
inquestionavelmente, era a melhor de todas e a única de couro.
O poder sobre todos os jogadores na quadra era do dono da bola – sempre
o Arthur. Então, ele decidia quem ficava no time dele, quem seria o juiz, quem
começava o jogo com a bola e também tinha certa influência sobre as decisões do
árbitro. Bastava alguém questioná-lo para que ele assumisse sua postura
ditatorial e expulsasse quem quer que contrariasse os seus interesses.
Alguns eram contra as atitudes de Arthur, mas estes eram mínimos
comparados a tantos outros que se aliavam a ele numa tentativa de garantir a
vaga no seu time e, consequentemente, no time vencedor. Estes, os “baba-ovos”,
eram detestados pelo time de cá, onde eu e meu espírito revolucionário sempre
estávamos presentes.
Desde aquele tempo, pouca coisa mudou. Ainda temos muitas figuras
capazes de fazer o que for preciso para garantir os interesses dos que têm
poder. Entretanto, o jogo agora é no Congresso Nacional.
Numa tentativa de compreender a problemática que causou este impeachment
puramente político, vejo que as ideias de Arthur foram apropriadas por muitos
dos líderes da oposição.
Há, porém, uma diferença. Cunha e Temer não aprenderam tão bem como ser
um Arthur. Ao aliar-se à oposição para destituir do cargo uma presidente que
teve a ousadia de contrariar seus interesses, eles falharam em não perceber
que, diferente do que acontecia nos jogos de futebol da quadra do colégio, hoje
há resistência dos que querem um jogo mais justo.
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