Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato
No Senado, à revelia da verdade
dos fatos, da norma constitucional e da opinião pública internacional e da
crescente rejeição do povo brasileiro, o processo de impeachment avança.
No Palácio do Jaburu, convertido
em sede da trama golpista, o pretenso futuro presidente Temer negocia
celeremente a partilha de cargos e dá contornos nítidos à agenda regressiva que
pretende implementar de imediato, apoiado na maioria parlamentar e no complexo
midiático.
A presidenta Dilma, em
sucessivos pronunciamentos, levanta voz altiva contra o golpe e se converte num
símbolo da resistência democrática.
Temer, em vídeo gravado para a
igreja do ultra-reacionário deputado pastor Feliciano, pede orações e promete
“pacificar” o País.
Lances de um cenário cuja base
objetiva é a tentativa de interromper o ciclo de transformações em curso desde
o primeiro governo Lula.
É a regressão institucional e
social.
Mas agora, passados quinze anos
do término da “era FHC”, as condições sociais para a plena implantação do
figurino neoliberal não são as mesmas.
Nesse lapso, o povo brasileiro
experimentou a ascensão social – inclusão no mundo do trabalho e no mercado de
consumo de bens duráveis e acesso aos aparelhos formadores de recursos humanos
– jamais vistos em nossa História.
Também experimentou um padrão
democrático nas relações entre os movimentos sociais e o governo, seja pela
descriminalização dos movimentos, seja pelo sistema de Conferências setoriais
que permitiram a mais de dois milhões de representantes, desde a base
municipal, debater e influir na formulação de polícias públicas.
Viu o Brasil respeitado na cena internacional.
Percebeu a possibilidade de um
dos seus, o operário metalúrgico Lula, ocupar o mais alto cargo da Nação e
liderar mudanças em favor da maioria.
Mostrou-se perplexo e indignado
diante de tantos casos de corrupção, agora incluindo gente ligada direta ou
indiretamente ao governo, porém aos poucos vai vislumbrando o caráter
assimétrico e partidário do combate à corrupção pelos órgãos de controle e pela
mídia.
Há, enfim, em grande medida, uma
“consciência política espontânea” relativamente elevada, bem díspar em relação
à que constatara Lênin em finais do século 19 e início do século 20.
Os senhores da “casa grande”, em
sua ânsia regressiva, não medem as consequências do que agora fazem,
subestimando a força que emergirá da “senzala” no desdobramento do impeachment
e da execução da agenda Temer.
Ampla parcela da população
aparentemente alheia ao que se passa e presente nas pesquisas como insatisfeita
com o governo e desejosa de mudança, dificilmente quedará insensível ao apelo
dos movimentos organizados. Reagirá em defesa das conquistas recém-alcançadas.
Lutas de grande envergadura
virão.
Um tempo novo – a exigir das
forças políticas mais consequentes, onde pontifica o PCdoB, descortino, garra,
firmeza e ao mesmo tempo amplitude e flexibilidade tática para explorar
divisões entre os “vitoriosos” de agora e reforçar a base popular da
resistência.
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