Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo
A rapidez e a facilidade com que Câmara e Senado
levaram ao processo de impeachment não foram naturais, nem espontâneas. No
Conselho de Ética da Câmara, a batalha em torno da cassação de Eduardo Cunha
reflete muito melhor as lutas pelo poder político nos parlamentos.
Poder que, sobretudo no Brasil, vem a ser também
material, com influência em altos valores públicos e privados, possíveis
manipulações de projetos e outras no interesse de grandes grupos econômicos, e
ainda favorecimentos em nomeações ou eleitorais. As aparências públicas sugerem
a luta em torno de um mandato, mas, se não for um deputado chinfrim, o mandato
propriamente é o de menos.
Com mais razão, e com seu poder disseminado sobre
uma infinidade de interesses privados e públicos, passa-se o mesmo em torno de
uma presidência suscetível de assédio. O exemplo do que ocorreu com Getúlio, no
seu criativo e ótimo governo presidencial nos primeiros anos 1950, é para se
tornar clássico na história da luta entre a força de interesses e o poder
governamental. No Brasil, até hoje, sempre com o mesmo vencedor.
Foram várias as forças a impulsionar as ações e o
ambiente nacional pelo impeachment de Dilma Rousseff. Os políticos, por
exemplo, estão conhecidos em seu papel. Imprensa e TV, mais ainda, talvez na
culminância dos seus surtos de antijornalismo político (nem a visita e as
palavras institucionais e democráticas do secretário-geral da OEA, Luis
Almagro, foram divulgados). Mas há os impulsos pouco ou nada conhecidos, o que
já lhes indica a força e a dimensão do interesse.
Petróleo. Pré-sal. Petrobras. Os boicotes tramados
contra o sistema de concessões e participações no pré-sal foram frustrados, e
isso resultou em que as petroleiras boicotadoras ficaram de fora. Indignadas e
sedentas. O competente corpo técnico da Petrobras superou os problemas para
exploração no pré-sal, com os quais as boicotadoras poderiam contar para
dificuldades que lhes abrissem nova oportunidade. Os percalços de uma ou outra
empresa associada à exploração foram insignificantes no êxito geral.
Retirar da legislação das concessões a obrigatória
participação e operação da Petrobras, na exploração mesmo por empresa privada,
é a primeira fórmula proposta para quebra do sistema vigente, aproveitando-se
da crise financeira da estatal e do seu desgaste político e na opinião pública.
Surgiu ainda sob improbabilidade do impeachment: José Serra apresentou o
projeto no Senado.
Logo se iniciou o trabalho sobre e dentro da
imprensa, em pouco tempo aparecendo páginas inteiras de assuntos correlatos mas
incidentes na abertura do pré-sal. A possibilidade do negócio foi levantada por
alguns até no próprio governo de Dilma.
Dois nomes tornaram-se citados na articulação,
política e comercial, dos interesses dirigidos ao pré-sal. Daniel Dantas, dono
do banco de investimentos Opportunity, notabilizado por negócios grandiosos e
vários deles rumorosos; e Eduardo Cunha, íntimo conhecedor da área estatal e
controlador de grande parte da Câmara.
É a estarem ambos no assunto petróleo que se
atribui a proximidade de Serra e Cunha, até que o desgaste forte do presidente
da Câmara retraísse o senador, para efeitos públicos.
Michel Temer entregou o programa de concessões a
Moreira Franco, de histórico notório. Para ter tal encargo, Moreira abriu mão
até de ser ministro. Há várias semanas, já dizia a jornalistas: "Tudo que
for privatizável vai ser privatizado". Toda estatal é privatizável. E
Michel Temer fala em concessões como parte importante de suas intenções.
O preço baixíssimo do petróleo torna a ocasião
muito propícia para a compra de pré-sal da Petrobras. O custo alto da
exploração não é empecilho. Por certo, em algum tempo o preço voltará a subir.
Não é preciso dizer mais sobre uma das forças pouco ou nada mencionadas que
agitam o Brasil e, entre outros feitos, impulsionam o impeachment –você sabe
como.
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