A morte das revistas semanais brasileiras
Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo
É a
morte do jornalismo semanal. E uma morte infame, desonrosa, suja.
Tantas
revelações em torno de Eduardo Cunha com suas contas na Suíça, e nenhuma
revista semanal o deu na capa.
Que
ele precisaria fazer para ir para a capa da Veja, da Época e da IstoÉ?
A
mídia fala tanto em corrupção, e quando aparece um caso espetacular destes
finge que não viu.
É uma
amostra do que a imprensa sempre faz quando se trata de político amigo: joga a
corrupção para baixo no tapete.
Isto
se chama manipulação.
O
brasileiro ingênuo é, simplesmente, ludibriado. Depois, corre para as redes
sociais para vomitar as besteiras que leu na imprensa.
Durante
a semana a mesma coisa ocorrera com os jornais. Eles esconderam o caso
Cunha.
Fernando
Morais comentou as capas logo na manhã de sábado. Notou, com razão, que parte
disso é culpa do próprio PT por ter enchido de dinheiro público empresas de
mídia que desinformam e não hesitam em sabotar a democracia quando sentem que
seus inumeráveis privilégios correm risco.
As
capas das revistas semanais e as primeiras páginas dos jornais nestes dias
demonstram que, na prática, existe um monopólio na mídia brasileira.
São
quatro ou cinco famílias, e na verdade uma só voz.
Não
fosse a mão invisível do mercado, para usar a grande expressão de Adam
Smith, e o poder das grandes corporações jornalísticas seria um obstáculo
formidável ao avanço social brasileiro.
Mas a
mão invisível trouxe a internet, e com ela um jornalismo que se
contrapõe ao gangsterismo editorial das grandes corporações.
Fazer
jornais e revistas de papel é coisa para grandes empresas, pelo tamanho dos
investimentos necessários.
Mas
montar um site é barato. Você não tem que imprimir sua publicação em gráficas,
pagar uma distribuidora, comprar papel em fábricas finlandesas e coisas do
gênero.
Seu custo
é infinitamente mais baixo.
Paralelamente,
a voz única das grandes corporações abre um espaço enorme para visões de mundo
diferentes.
Foi
assim que surgiu e floresceu, na internet, um jornalismo dissidente
vital para a democracia nacional.
Considere:
sob Getúlio e Jango, vítimas da imprensa, não houve contraponto à narrativa
golpista da imprensa.
(Getúlio,
um homem de visão, tentou resistir aos barões da imprensa com a criação de um
jornal, a Última Hora, mas era quase nada diante da avalanche dos grandes
jornais.)
Avalie
como seriam as coisas sem o contraponto dos sites independentes.
O
caso Eduardo Cunha mostra muitas coisas, e não apenas sobre a mídia. Estampa a
parcialidade da Justiça e da Polícia Federal, também.
Cunha
tinha que estar dedicando todo o seu tempo a se defender das acusações
terríveis que pairam sobre ele.
Em
vez disso, trama a derrubada de Dilma como se não tivesse nada além do
impeachment em sua agenda.
Ele
só faz isso porque sabe que goza de ampla proteção.
Essa
proteção ficou grotescamente evidente neste final de semana, nas bancas
brasileiras, com as capas das revistas semanais.
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