O petróleo pode ajudar na saída crise
Haroldo Lima, no Blog do Renato
Setores
sociais conflitantes têm buscado dois objetivos distintos na atual situação:
afastar a presidenta da República, por algum meio “legal”, se possível o
impeachment; e construir apoios para garantir sua governabilidade. No momento,
se bem que a instabilidade continua, os que querem depor a presidenta estão
perdendo força.
A sociedade
percebeu que a busca incessante por um pretexto “legal” para afastar a
presidenta era golpismo. Deu-se conta de que o presidente da Câmara, um dos
principais líderes do “impeachment”, está ameaçado de perda de mandato, por
causa de corrupção. E verificou que a oposição frenética ao governo pode
descambar para uma oposição ao Brasil. O ex-ministro Delfim Neto mostrou que,
em votação na Câmara, “o comportamento da bancada do PSDB, com uma única
exceção, votou pela rejeição dos vetos que Dilma aplicou, corajosamente, às
maluquices aprovadas pelos deputados”, o que provocou “enorme frustração na
sociedade brasileira…” (Valor, 29/09/2015).
Ao mesmo
tempo, o esforço por ampliar a base do governo conseguiu vitória significativa,
com uma reforma ministerial que reduziu salários do alto escalão, 20% nos
gastos de custeio, eliminou 30 secretarias de ministérios, três mil cargos
comissionados e oito ministérios. Debilidades perduram, mas o governo se mexeu,
de forma democrática, ouvindo e aglutinando forças.
Contudo, uma
questão se coloca. Se o desafogo político que emerge da reforma ministerial não
for acompanhado da dinamização da economia, será efêmero. Daí que urge
debruçar-se sobre a retomada do desenvolvimento. O setor de petróleo e gás pode
ajudar nesse sentido.
Naturalmente
que a crise no setor de petróleo tem aspectos da crise geral, mas tem suas
particularidades. A principal é a queda do preço internacional do óleo.
De janeiro de
2011 a agosto de 2014 foram três anos e oito meses consecutivos em que o barril
do petróleo (Brent) esteve cotado a mais de US$100, com uma única exceção
(junho de 2012, US$97 o barril). De setembro de 2014 até agora, são 13 meses em
que a cotação do barril oscila em torno dos US$50.
Esta queda
prolongada repercutiu no setor em escala mundial. No Brasil, agravaram-na, a
valorização do dólar e a corrupção.
Essas
particularidades permitem que o governo federal possa definir, em articulação
com o setor petrolífero, uma política para a retomada do seu desenvolvimento. O
empresariado poderia arrolar o que julga serem pontos básicos para essa
retomada e encaminhá-los ao Governo e à Comissão que no Senado examina a Agenda
Brasil, proposta pelo presidente do Congresso. Desses pontos, alguns se
destacam.
O primeiro é a necessidade de se ajustarem legislação e regulação à mudança na conjuntura petrolífera. Passados mais de um ano da queda do valor do petróleo, nossas exigências, inclusive financeiras, às empresas contratadas, grandes e pequenas, continuam as mesmas, como se o valor do produto que elas extraem não tivesse caído mais ou menos à metade. As empresas pequenas, brasileiras, são tratadas como se não houvesse o mandato constitucional que obriga “tratamento favorecido às empresas de pequeno porte”, (art. 170 da CF).
O primeiro é a necessidade de se ajustarem legislação e regulação à mudança na conjuntura petrolífera. Passados mais de um ano da queda do valor do petróleo, nossas exigências, inclusive financeiras, às empresas contratadas, grandes e pequenas, continuam as mesmas, como se o valor do produto que elas extraem não tivesse caído mais ou menos à metade. As empresas pequenas, brasileiras, são tratadas como se não houvesse o mandato constitucional que obriga “tratamento favorecido às empresas de pequeno porte”, (art. 170 da CF).
Depois, vem a
partilha no pré-sal, que alguns querem acabar. Seria grave prejuízo à Nação. Na
partilha, o Estado, por ser o proprietário do óleo extraído, tem facilidade
para alocar riquezas em objetivos sociais e industriais e com facilidade pode
controlar a produção. Esta é uma atribuição vital por se tratar de um bem
material superabundante em uma determinada região, que, se produzido sem
controle, pode deformar a atividade produtiva do país e ameaçar sua
industrialização.
Em seguida vem
a questão de a Petrobras ser operadora única no pré-sal, dispositivo que deve
ser examinado à luz do interesse nacional de ampliar a atividade nessa
província.
Pela regulação
em vigor, a empresa para ser operadora tem de participar com 30% dos
investimentos do campo e terá 30% de participação quando iniciada a produção.
Nessas condições, ou a Petrobras arca com 30% da exploração de todos os blocos
que vierem a ser arrematados no pré-sal, o que talvez esteja acima de suas
possibilidades, ou a exploração do pré-sal entra em ritmo lento, para se
coadunar com as finanças da estatal. Para não prejudicar o Brasil nem a
Petrobras, o recomendável será reservar à Petrobras a condição de operadora
preferencial do pré-sal, que escolhe os blocos que deseja operar.
Outro tema é o
relativo ao surgimento no país de um setor industrial de expressão – o dos
produtores independentes de petróleo e gás – de pequeno porte e brasileiro. Há
países em que esse setor participa com expressiva parcela na produção nacional
do óleo, com parcela maior ainda na aglutinação de técnicos e trabalhadores e
no aumento dos royalties.
Na 9ª Rodada
de Licitações da ANP, em 2007, das 67 empresas qualificadas, 32 eram
brasileiras. Esse número caiu bastante, pois que essas empresas tem
dificuldades em entrar em caras explorações e não conseguem adquirir os campos
em declínio da Petrobras. Agora que a estatal fala em “desinvestimentos”, é
oportuno realçar primeiro que o ativo a ser vendido não deve ser fundamental no
esquema da empresa; segundo vender ativos com o mercado “em baixa” é um mau
negócio; terceiro que “desinvestir” campos em declínio é necessário, devendo-se
vincular os “desinvestimentos” a novos “investimentos”, que seriam feitos pelas
empresas brasileiras que os adquirissem. Isto seria bom para o Brasil, pois
ajudaria seu desenvolvimento e faria bem ao caixa da estatal.
Haroldo Lima é
engenheiro, e foi Diretor Geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Bio-combustíveis e é membro do Comitê Central do PCdoB.
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sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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