A ação de procuradores pró-impeachment
Ainda haverá uma nova enxurrada política este mês, tentando reavivar o
fantasma do impeachment, antes que o país recobre a normalidade política e a
disputa governo oposição volte ao trilho das críticas e propostas.
Por Luís Nassif*, no Jornal GGN
Por Luís Nassif*, no Jornal GGN
A estratégia é conhecida. De um lado, delegados e procuradores
criam fatos políticos novos, através de novas ações, novas denúncias ou
vazamentos. A imprensa ecoa. A parceria visa recriar o clima pró-impeachment com
vistas às manifestações marcadas para início de março.
Os dois focos principais dessa parceria oposição-procuradores são a Lava
Jato e o Ministério Público Federal do Distrito Federal. Durante a julgamento
do “mensalão”, como se recorda, entre outros feitos o MPF do Distrito Federal
valeu-se do álibi de uma denúncia anônima para rastrear até os telefones do
Palácio do Planalto.
Do lado da Lava Jato, o aquecimento atual são as notícias sobre o o tal
triplex de Guarujá e o sítio de Atibaia.
De Brasília, os procuradores agitaram a questão da Medida Provisória da
indústria automobilística, uma prorrogação de prazo de outra MP, dos tempos de
Fernando Henrique Cardoso, que contou com o endosso de todos os partidos
políticos no Congresso.
Gastou-se esforço, recursos e tempo em uma clara mudança de foco,
deixando para segundo plano o ponto central das denúncias, a corrupção no Carf
(Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
A próxima ofensiva será sobre a licitação FX, na qual o governo optou
pela sueca Saab-Scania, em detrimento da Dassault francesa e do F-18
norte-americano. Depois disso, provavelmente farão denúncias sobre a compra de
submarinos, sobre acordos comerciais, sobre o Plano Brasil Maior, sobre o Bolsa
Família, sobre a compra de flores pelo Palácio, em uma lista infindável
destinada a congestionar o debate político.
Pouco importa se o processo FX foi tratado pelas três armas, se a
própria Força Aérea Brasileira havia optado pelos suecos. A exemplo da Medida
Provisória, quem propõe a ação não visa resultados jurídicos, mas políticos.
De representação em representação, de processo em processo vai-se
ampliando a interferência do Ministério Público no jogo político, através da
ação individual de procuradores militantes ou meramente exibicionistas.
Não se trata de uma ação de poder. Institucionalmente, desde a
Constituição de 1988 o Ministério Público Federal foi responsável por grandes
avanços civilizatórios, ajudando a concretizar princípios delineados na Carta
Magna. Medidas relevantes em favor das minorias, dos direitos sociais, dos
direitos humanos, contra a corrupção, em todos esses avanços identifica-se a
ação institucional do MPF.
Mas em que pese a respeitabilidade de muitos de seus membros, não logrou
impedir a ação aventureira de jovens procuradores, a partir do momento que a
Lava Jato ganhou protagonismo político e que a cúpula do MPF passou a aceitar
passivamente a parceria procuradores-mídia.
As prerrogativas dos procuradores acabaram sendo utilizadas para
ingressarem de cabeça no jogo político.
Trata-se de questão delicada para a própria independência futura do
Ministério Público. Não é possível a qualquer democracia conviver com tal nível
de interferência política, de facciosismo, que vai muito além da apuração da
corrupção.
Mais cedo ou mais tarde, o MPF e o CNMP (Conselho Nacional do Ministério
Público) terão que encarar essa questão, antes que o tema seja apropriado por
seus adversários.
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