Rhythm
A hora de ter sentido de urgência na economia
Luís Nassif, no Jornal GGN
O quadro que se tem é o seguinte.
Há um iceberg se aproximando, já
visível no horizonte.
1. Queda do PIB de 4% no ano passado,
provavelmente mais 4% este ano, segundo previsão da OCDE (o conjunto das nações
industrializadas). Significa depressão à vista, aquela situação em que o
organismo econômico não reage nem a choques de insulina.
2. Há riscos concretos de uma
inviabilização da dívida pública, devido à dinâmica de crescimento da dívida
(turbinada pela Selic) e de queda da receita fiscal (em decorrência da queda do
PIB).
Inflação aleija. Crise externa aleija
(com o nível de reservas em ordem). Crise fiscal, mata.
***
No entanto, o debate público está
dominado por meia dúzia de jovens turcos da Lava Jato associados a jornais sem
nenhuma noção de notícia, brincando de impeachment.
A cada dia que passa mais aumenta o
perigo, mais o iceberg se aproxima, mas o país parece despido de qualquer sentido de urgência. Têm-se um governo
amorfo, sem competência para montar uma estratégia econômica à altura do
momento; um sistema judicial irresponsável, no qual juízes, procuradores e
delegados querem assumir o protagonismo político sem terem votos; uma oposição
incendiária e um setor empresarial representado por um empresário que vive de
rendas, Paulo Skaf.
***
Como é que faz?
O desafio central é a criação de
demanda. Sem ela não há investimento. Sem investimento não há crescimento. Sem
crescimento, não há superávit fiscal.
Onde criar a demanda?
No consumo das famílias, o
realinhamento brusco de preços, câmbio e tarifas, na gestão Joaquim Levy -
aquele choque mágico que, em um instante devolveria a credibilidade à política
econômica -, na verdade demoliu o poder aquisitivo e desmontou a perna do
consumo.
A excessiva demora em recuperar o setor
de petróleo e gás, em parte devido ao carnaval em torno da Lava Jato, em parte
devido à excessiva lentidão do governo em encaminhar a Lei de Leniência,
paralisou o gasto público.
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Os fatores imediatos de demanda são as
exportações – com um câmbio favorecido mas um comércio mundial andando de lado
– e os gastos públicos.
***
E aí se entra na questão fiscal e em
alguns axiomas que precisam ser considerados:
1. É impossível obter-se superávit via
aumento nos cortes de gastos. Cada corte significa uma queda mais que
proporcional da receita. Não haverá como fugir da CPMF, a não ser que se queira
o caos fiscal instalado.
2. A manutenção da Selic nos níveis atuais
em breve elevará a relação dívida/PIB a tal ponto que colocará em risco a
própria segurança dos títulos públicos. Dilma não tem mais tempo para pagar
para ver. A conta já chegou.
***
Nesse quadro, há a necessidade premente
dos seguintes pontos:
1. Aprovação da CPMF.
2. Redução rápida da Selic, ainda mais
tendo o risco da depressão econômica no horizonte.
3. Destravamento imediato da cadeia de
petróleo e gás através da agilização dos acordos de leniência. O governo não
pode ficar nas mãos de procuradores rasos, que não conseguem enxergar um palmo
além do seu inquérito.
4. Montagem de um plano que ajude a
destravar os investimentos a partir dos municípios. Isso pode ser feito
equacionando o endividamento dos estados e municípios em troca de direitos de
concessão em áreas como saneamento, iluminação etc., no que puder alavancar
investimentos privados, produção industrial.
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Em situação de emergência, não adianta
soluções convencionais, próprias para administrar economias em estado de
relativo desequilíbrio. Tem que ser algo de impacto, que permita à presidente
convocar todos os poderes em uma batalha de salvação nacional que lhe devolva o
protagonismo político.
Sem esse sentido de urgência, vai se
continuar na lengalenga atual, no qual a declaração de qualquer procurador, sem
nenhum senso de responsabilidade institucional, paralisa o governo.
Leia mais sobre temas da
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