Dilma cometeu 'erro tático" com sua base, diz Luciana Santos
'Nós temos dito claramente que achamos incorreta a pauta da
reforma da Previdência para o momento', diz Luciana Santos, presidente nacional
do PCdoB’
Em
entrevista ao JC, Luciana Santos fala sobre ajuste fiscal, candidatura em
Olinda e a vaga de vice no Recife
Paulo Veras
Presidente nacional do PCdoB, sigla
mais fiel a Dilma Rousseff, Luciana Santos é contra a reforma da Previdência e
vê erro estratégico na condução do ajuste fiscal. Em entrevista ao Jornal do Commercio, ela se coloca no debate pela sucessão em Olinda. No
Recife, sinaliza que os comunistas esperam continuar na vice de Geraldo Julio
(PSB).
JORNAL DO
COMMERCIO – O PCdoB vai apoiar a reforma da Previdência?
LUCIANA
SANTOS -
Nós temos a compreensão de que esse debate é necessário. Todos os dados indicam
que em função do envelhecimento da população brasileira, nós teremos daqui a
alguns anos um colapso na Previdência. Agora, nós achamos que existem reformas
estruturantes no País mais urgentes, que poderiam impactar nos recursos da
própria Previdência.
JC - Quais
seriam?
LUCIANA – A reforma tributária, por exemplo. Ela é muito mais
urgente. Nós temos um tributo que penaliza os trabalhadores, os salários mais
baixos. E a gente poderia fazer uma reforma que pudesse incidir onde se tem
mais renda e mais patrimônio. Isso daria outra equação para as receitas da
União. Há também o debate político numa situação em que a presidente precisa
resgatar uma relação com a própria base social que a elegeu, que são os
trabalhadores.
JC – Há um
erro no modo como a presidente está conduzindo o ajuste?
LUCIANA – Desde o primeiro ano do mandato, quando se pautou aquelas
duas primeiras Medidas Provisórias do seguro-desemprego, acho que foi um erro
tático. De apresentar medidas que impactavam exatamente na base social que
elegeu ela. É tanto que nós tivemos um ministro da Fazenda que durou só um ano.
Acho que o que nós vamos persistir é em uma agenda que a própria presidente,
paralelamente, também fez. Que são as PPPs, os anúncios de investimento em
infraestrutura, para retomar o crescimento. O acordo de leniência é um debate
necessário também. Porque nós temos que punir os executores da corrupção, mas
não se pode penalizar os trabalhadores, os técnicos, os engenheiros e a própria
economia.
JC – E como
fica a posição do partido em relação à CPMF?
LUCIANA – É preciso que se diga que a proposta do governo é que seja
um imposto temporário. E sirva exatamente para cobrir o déficit da própria
Previdência e da Saúde, que é também um problema estrutural no País. Então
achamos que a CPMF, sendo temporária, é necessária. Por que é preciso cortar
gordura, mas não a ponto de paralisar os serviços essenciais da população.
JC – Esses
temas não vão contra às bandeiras históricas do PCdoB?
LUCIANA – Por isso que nós não somos a favor da reforma da
Previdência agora. Nós não votamos no fator previdenciário. É claro que na
medida em que estamos na base do governo, nossa posição é avaliar. Mas a
princípio, nós temos dito claramente que achamos incorreta a pauta da reforma
da Previdência para o momento. Agora, a CPMF é imposto sobre a movimentação de
quem tem conta em banco. Não é exatamente uma agenda contra o trabalhador.
Diferentemente da reforma da Previdência.
JC – O
PCdoB vai ter candidato em Olinda?
LUCIANA – Estamos construindo com muita calma. Não necessariamente
teria que ser o PCdoB. Não é um projeto pessoal, é um projeto político das
cidades, que precisam mais do que nunca melhorar a qualidade de vida. Nós
estamos procurando debater esse assunto programaticamente para a partir daí
lutar pela unidade das nossas forças, que sempre foi para nós algo muito caro.
JC – A
senhora tem a pretensão de disputar a prefeitura? Pode se afastar da
presidência do PCdoB?
LUCIANA – Olinda é a minha vida. Então, esse é um debate que está
posto. E mesmo com a presidência nacional do partido, nós vamos fazer a
avaliação desses desafios. Existem muitos casos desses no Brasil todo. Nosso
saudoso Eduardo Campos era presidente nacional do partido e era também
governador. A princípio, não haveria contradição. Mas isso é uma construção
política. Estamos abertos para que, no contexto do leque de forças do nosso
campo, ver quem reunirá mais condições para termos êxito no resultado
eleitoral.
JC – O PT
tem feito gestos para o PCdoB em Olinda e já ofereceu até a vice. Essa aliança
é possível?
LUCIANA – Nós estamos abertos para todas as construções políticas
desde que isso seja uma construção de muitas forças. Até julho, muitas mudanças
haverão. Até porque as eleições serão muito diferentes este ano. O período de
campanha vai ser curtíssimo, não vai ter financiamento de campanha privado.
Muitas variáveis ainda estão em desenvolvimento até o prazo das convenções.
JC – Com o
PSB, que está se colocando como oposição, ainda é possível um entendimento?
LUCIANA – Essas são coisas que estão em construção. Todas as
candidaturas do nosso campo são legítimas. Naturais até. A gente vê isso com
paciência para poder, lá na frente, construir convergências. Esse tempo todo em
que o PCdoB esteve a frente da prefeitura, o PSB participou do nosso governo.
JC – A
candidatura de Antônio Campos causa algum desconforto ao PCdoB, que sempre foi
aliado do PSB no Estado?
LUCIANA – Temos uma aliança que para o PCdoB é uma das mais
programáticas. Historicamente, nossa afinidade política sempre foi com o PSB e
o PT. A relação com Arraes vem até antes de o PT existir. Nós vamos lutar até
as últimas consequências para esse ambiente de unidade política. Esse é o nosso
espírito.
JC – No
Recife, há um movimento que defende um vice do PMDB para Geraldo Julio. O PCdoB
gostaria de continuar na vice?
LUCIANA – Natural que a gente tenha esse desejo. Pela questão da
continuidade de um projeto político exitoso. Uma experiência que Luciano
Siqueira, com Geraldo Julio, tem vivenciado. Mas nós ainda não tivemos nenhuma
conversa nesse sentido, de mudança dessa construção política que nós já fizemos
lá atrás.
JC – A
troca da vice poderia prejudicar a aliança entre os dois partidos?
LUCIANA – Cada coisa a gente discute a seu tempo. Não tivemos
nenhuma conversa com o PSB sobre isso. Então não tem porque a gente antecipar
qualquer avaliação por que isso vai passar por uma discussão coletiva entre
nós. Não tem nenhuma definição sobre isso.
JC – Hoje,
a disposição do PCdoB, então, é apoiar a reeleição do prefeito?
LUCIANA – Claro. Nós somos do governo. Temos o vice-prefeito.
JC – Então
uma eventual aliança com o PT no Recife estaria descartada?
LUCIANA – O que nos move são os projetos políticos. Nós temos
afinidade com o PT. Tanto que apoiamos a presidente Dilma mesmo na adversidade,
independente de popularidade. Nós não sabemos qual será o projeto eleitoral do
PT, que também está em construção. Não tem como definir posições sem ter
evoluído no processo de discussão das próprias alternativas que estão em curso
na discussão do Recife. A princípio, nós vivenciamos esse período todo com
Geraldo Julio e temos a vice-prefeitura. Essa é a aliança que está posta hoje.
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