Testes com
células-tronco e ‘minicérebros’ mostram que infecção pelo vírus destrói células
neurais e prejudica desenvolvimento cerebral. Leia na seção 'Pelo Brasil', da
CH 335.
Alicia Ivanissevich,
na Ciência Hoje
Células
infectadas com zika vírus (em vermelho); os núcleos celulares estão em azul.
(foto: Pablo Trindade e Erick Loiola / IDOR)
Com a chegada
do vírus da zika ao Brasil em 2015, o aumento no número de casos de
microcefalia em recém-nascidos tem sido associado à infecção. Agora,
pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto
D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) apresentaram mais uma prova para essa relação.
Ensaios com células-tronco reprogramadas e ‘minicérebros’ mostraram que o zika
vírus provoca destruição e morte celular, além de reduzir a taxa de crescimento
cerebral. O estudo, liderado pelo neurocientista Stevens Rehen, do IDOR e da
UFRJ, foi publicado no periódico aberto (para compartilhamento de dados) PeerJ Preprints de 2 de março e na revista Science de 8 de abril.
“Há bastante
tempo trabalhamos com modelos que simulam o desenvolvimento do cérebro fetal:
células-tronco neurais criadas a partir da reprogramação de células da pele ou
da urina; um modelo de neuroesferas (agregados celulares similares ao começo do
desenvolvimento cerebral) e os organoides, ou minicérebros, que simulam o
desenvolvimento de um cérebro em período gestacional de até dois meses de
idade, com características muito próximas às de um cérebro humano em
desenvolvimento”, explica Rehen. Por conta da emergência sanitária nacional, o
grupo de Rehen se juntou aos de colegas, como a neurocientista e especialista
em microcefalia Patrícia Garcez e o infectologista Amílcar Tanuri, para ver,
nesses modelos, quais seriam as consequências da infecção do zika vírus nas
células nervosas.
Dois grupos de
células-tronco foram testadas – um com células infectadas com o vírus e outro,
o controle, permaneceu sem infecção. “Após seis dias, as células-tronco
infectadas formaram de 15 a 20 neuroesferas, todas com uma configuração
estranha e muito destruídas, enquanto as não infectadas mantiveram um
desenvolvimento normal, formando de 200 a 300 neuroesferas”, relata Rehen. “Com
a ajuda da microscopia eletrônica, olhamos dentro das células e percebemos que
a destruição das organelas celulares era bastante evidente e que havia morte
celular”, acrescenta.
O estudo foi
repetido em organoides com 35 dias de formação. Após 11 dias de infecção, houve
uma redução de 40% do crescimento nos minicérebros infectados quando comparados
com os do grupo controle. A conclusão da equipe, portanto, é que o vírus
infecta as células neurais, a infecção provoca morte celular e esta reduz a
taxa de crescimento dos minicérebros.
A vantagem de
usar esses modelos, segundo o neurocientista, é que eles permitem estudar as
consequências da infecção de forma muito semelhante ao que acontece nos seres
vivos.
O próximo
passo é testar medicamentos que possam reduzir os danos causados pelo vírus no
cérebro em formação. “Preciso de parcerias com empresas que considerem que têm
compostos com potencial terapêutico contra o zika para podermos iniciar os
testes”, diz Rehen.
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