Luciano
Siqueira, no Blog do Renato
Nos
dias imediatos à confirmação, pelo Senado, da admissibilidade do processo do
impeachment contra a presidenta Dilma e seu consequente afastamento do cargo,
dois sentimentos devem ser evitados entre os milhares de líderes e ativistas da
luta democrática.
Um é o
sentimento de desânimo.
- Tanta
luta e não deu em nada!, escreve-me pelo WhatsApp uma jovem militante.
- Nada
disso, repondo. - Para os da minha geração, este é apenas um episódio de uma
luta de longo curso, ainda que dramático e capaz de determinar os rumos imediatos
da nação.
- Para
a sua geração - prossigo -, talvez uma das primeiras experiências marcantes de
combate por uma causa justa. A luta segue e estaremos todos em nossas
trincheiras daqui por diante, na resistência à agenda neoliberal de Temer e em
defesa dos direitos do povo e da nação. De fronte erguida e bandeiras
alevantadas.
O outro
sentimento, igualmente perigoso, é o do voluntarismo sectário.
- Agora
o pau vai comer e vamos botar pra quebrar nos coxinhas e em todos os traidores
que votaram pelo impeachment!, leio num dos grupos de debate no WhatsApp.
- Isso,
companheiro! - reforça outro integrante do grupo. Fora PCdoB, PT e PSOL não
sobrou ninguém, diz ele.
Aí vai
uma carga imensa de simplificação, mecanicismo e sectarismo que a nada leva
além do autoisolamento da esquerda.
Para
não irmos longe, cá em terras pernambucanas, não se conhece nenhuma conquista
histórica relevante - da Insurreição Pernambucana, que expulsou os holandeses,
às eleições de Arraes para o governo estadual -, sem o concurso de frentes
amplas e diversificadas.
E assim
é na história humana, aqui e alhures.
Então,
cabe renovar nova disposição de luta e ao mesmo tempo atiçar nossa
sensibilidade tática para explorar toda e qualquer possibilidade de atrair
grupos e frações das hostes das legendas que embarcaram na aventura do
impeachment – quem sabe os votos de que necessitamos para evitar os dois terços
finais no Senado e manter o mandato da presidenta Dilma.
Numa
situação adversa como a em que nos encontramos agora, perder o descortino e
quedar conformados ao isolamento é fazer o jogo das forças golpistas, em
especial do seu núcleo duro, a oligarquia financeira e o complexo
partidário-policial-midiático que urdiu e comandou o golpe.
A luta
há que seguir - com firmeza e coragem e, ao mesmo tempo, amplitude e habilidade
tática. Para que possamos
adiante, reconstruídas nossas forças, ir à contraofensiva.
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