Bernardo de Mello Franco, na Folha de S. Paulo
A posse de Michel Temer deve marcar a
mais brusca guinada ideológica na Presidência da República desde que o marechal
Castello Branco vestiu a faixa, em abril de 1964. Após 13 anos de governos
reformistas do PT, o país passa ao comando de uma aliança com discurso liberal
na economia e conservador em todo o resto. O eleitor não foi consultado sobre
as mudanças.
O cavalo de pau fica claro na escalação do ministério, que sugere desprezo à
representação política das minorias. Ao substituir a primeira presidente
mulher, Temer montou uma equipe só de homens, o que não acontecia desde a era
Geisel. Os negros também foram barrados na Esplanada.
O Ministério da Educação foi entregue
ao DEM, partido que entrou no Supremo contra as ações afirmativas. A pasta do
Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, acabou nas mãos de um
deputado do PMDB que já se referiu ao benefício como uma "coleira
política". Para a Justiça, Temer escolheu o secretário de Segurança de São
Paulo. Ele assume com explicações a dar sobre violência policial e maquiagem de
estatísticas de criminalidade.
A fauna do Planalto também mudou
radicalmente em poucas horas. Além dos políticos que restaram ao seu lado,
Dilma Rousseff se despediu cercada por gente de esquerda, como sindicalistas,
ex-presos políticos e militantes de movimentos sociais.
A chegada de Temer encheu o palácio de
representantes da direita brucutu do Congresso, como os deputados Alberto Fraga
e Laerte Bessa, da bancada da bala, e o ruralista Luis Carlos Heinze, que já se referiu a
quilombolas, índios e homossexuais como "tudo que não presta".
Depois do pronunciamento de estreia, o presidente
interino se reuniu a portas fechadas com líderes religiosos e parlamentares
evangélicos. Estavam presentes os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano,
que defendem ideias como o projeto da "cura gay". Eles voltaram para
casa entusiasmados com o novo regime.
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