Ameaças, luta e esperança no Dia
Internacional da Democracia
José Ambrósio*, no Blog Falou & disse
Atento
a todo minuto a tudo o que está ocorrendo no mundo, ainda mais agora com a
emergência da pandemia do novo coronavírus, o secretário-geral da Organização
das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou, nesta terça (15) Dia
Internacional da Democracia, enxergar ameaças em vários países para se
restringir os processos democráticos e o espaço cívico. A data foi criada pela
ONU em 2007, como forma de lembrar a Declaração Universal da Democracia,
assinada em 15 de setembro de 1997 por representantes de 128 países.
Guterres
destacou que antes mesmo da instalação da pandemia já se observava o aumento da
frustração e a consequente diminuição da confiança das populações nas
autoridades públicas, em decorrência da falta de oportunidades, que segundo
avaliou, estava gerando inquietação econômica e agitação social. Ele disse
estar claro que os governos devem fazer mais para ouvir as pessoas que pedem
mudanças, abrindo novos canais de diálogo e respeitando a liberdade de reunião
pacífica.
Guterres
afirmou ainda que a crise de saúde também está destacando e agravando
injustiças, que para ele há muito estão sendo negligenciadas. Citou como
exemplos sistemas de saúde inadequados, lacunas de proteção social,
desigualdades digitais e acesso desigual à educação, além de degradação
ambiental, discriminação racial e violência contra as mulheres.
“Junto
às profundas perdas humanas, essas desigualdades são, elas próprias, ameaças à
democracia”, ressaltou Guterres na mensagem de vídeo gravada para celebrar o
Dia Internacional da Democracia.
Realista
diante dos graves problemas, mas também esperançoso, o secretário-geral da ONU
pediu que se aproveite o momento para se construir um mundo mais igualitário,
inclusivo e sustentável, com pleno respeito pelos direitos humanos.
Em
Brasília, o Dia Internacional da Democracia foi destacado ontem pelo Senado,
como informou a Agência Senado. O senador pernambucano Humberto Costa afirmou
que a data deve ser de comemoração, mas principalmente um dia de luta,
especialmente para o Brasil. Ressaltou que desde a redemocratização (1985) e a
Constituição de 1988, a democracia no país nunca esteve tão ameaçada. Segundo
ele, o presidente Jair Bolsonaro é exemplo desse risco ao defender a ditadura
militar e suas práticas antidemocráticas, como tortura e perseguição política.
Destacou ainda a ameaça à autonomia e à independência entre os poderes, por
conta dos seguidos atritos e contradições com o Judiciário e o Congresso.
A
senadora maranhense Eliziane Gama disse que a crise econômica, reforçada pela
pandemia de Covid-19, é um fator de risco. Ela ressalta que é preciso enfrentar
a crise sem demagogia, com orientação nos interesses das camadas empobrecidas e
apostando na produção.
Na
Câmara dos Deputados tramita um projeto que propõe a criação do Dia Nacional da
Democracia, a ser comemorado anualmente no dia 13 de dezembro. O PL 6.183/2019
recebeu o apoio de 25 partidos que querem a data como um contraponto à instituição
de leis autoritárias. A data lembra a instituição do Ato Institucional nº 5
(AI-5), norma que, em 1968, endureceu ainda mais a ditadura Civil-Militar. A
proposta, segundo o autor Alessandro Molon, é possibilitar uma ampla reflexão
crítica na sociedade sobre o que significa viver em um Estado Democrático.
Estejamos
todos sempre vigilantes.
*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.
Foto destaque: Protestos nas ruas de La
Paz, na Bolívia. Guterres alertou para fechamento do espaço cívico, ONU
Bolívia/Patricia Cusicanqui
Veja: Criminoso desmonte do Estado nacional https://bit.ly/2R5RfFB
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