A Comissão Nacional de Saúde do PCdoB apresentou, nesta
segunda-feira (14), um conjunto de diretrizes que constituem a plataforma de
saúde do PCdoB para as eleições de 2020. O objetivo é estimular os candidatos e
as candidatas a elaborarem seu próprio programa para a área a partir da
realidade local e “partindo do princípio de que a saúde pública já era a
principal angústia do povo brasileiro e agora, com a tragédia da pandemia,
tornou-se ainda mais grave e dramática”.
“Proteger
e cuidar do povo é uma das principais missões do PCdoB e o que mobiliza a
militância. Ao desenvolver essa missão nas diferentes áreas que atuamos, foi
possível, através de muita escuta, identificar os pontos comuns que
consideramos essenciais para garantir o direito à saúde ao povo brasileiro,
principalmente aqueles sob responsabilidade dos municípios”, explica Ronald
Ferreira dos Santos, coordenador-geral da Comissão Nacional de Saúde do PCdoB e
ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde.
AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS E A PLATAFORMA
DE SAÚDE DO PCdoB
Nossa missão: enfrentar a pandemia,
defender a vida do povo e fortalecer o SUS
Em seis meses de pandemia, já são
mais de 131 mil brasileiros/as mortos/as. Poucos são os países que chegaram a
essa trágica situação. Todas as ações relevantes para enfrentar a pandemia
foram sabotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Demissão de dois ministros da
Saúde, acabando com a possibilidade de coordenação nacional para o
enfrentamento da pandemia. Milhões de testes ficaram armazenados no Ministério
da Saúde sem utilização. Recursos preciosos para compra de medicamentos,
aparelhos e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ficaram retidos no
governo federal.
Bolsonaro incentivou aglomerações e
vetou o uso de máscaras em ambientes fechados. Desarticulou a proteção de
populações mais vulneráveis, entre elas os indígenas, e especialmente os
profissionais dos serviços essenciais, como os da saúde. E, agora, desestimula
a vacinação em massa, medida indispensável para acabar com a pandemia no
Brasil. Por essas e outras aberrações, Bolsonaro foi denunciado no Tribunal
Penal Internacional, em Haia (Holanda), por crime contra a humanidade.
Diante da irresponsabilidade e da
conduta criminosa de Bolsonaro, coube aos governadores, prefeitos e seus
secretários de saúde envidar esforços para tentar conter a tragédia que se
abate sobre a nação. Segundo estudos, o centro da ação do enfrentamento à
pandemia deve estar no rompimento da cadeia de transmissão. Ou seja: na busca
pelos contaminados e seus contatos, com o intuito de realizar o rastreamento,
conter a circulação do vírus e assim obter êxito no bloqueio do contágio.
É fundamental, para o êxito dessa
estratégia, que o poder público assuma o monitoramento e os custos do isolamento
temporário de pessoas contaminadas, ou com exposição continuada ao vírus, com
precárias condições de fazê-lo por conta própria.
Para tanto, o sistema de saúde deve
estar organizado para conter a circulação do coronavírus. Torna-se fundamental
investir em ações de Atenção Primária e Vigilância em saúde, com o
desenvolvimento de atividades de prevenção, proteção, monitoramento e
vigilância epidemiológica de casos e contatos, efetivadas pelas equipes de
saúde, com a imprescindível participação dos agentes de saúde nos lugares onde
vivem as famílias e as comunidades.
São ações sustentáveis,
comprovadamente exitosas em países que as utilizaram. No Brasil, no entanto,
com a desorientação do governo federal, estas medidas foram praticamente
abandonadas durante a pandemia, levando às mais altas taxas de mortalidade e
letalidade do mundo, só comparáveis, nas Américas, às dos Estados Unidos, Peru
e Chile.
Nossa luta: fortalecer o SUS e cuidar
das pessoas e comunidades
Neste contexto, o Sistema Único de
Saúde (SUS), com mais de 31 anos de implantação, tem sido uma alternativa
presente para a maioria da população no enfrentamento à pandemia, com um
esforço notável de seus trabalhadores, gestores e equipes que atuam com
dificuldades de coordenação e grandes desafios para cumprir a sua missão
constitucional da universalidade, integralidade e equidade. Mais do que nunca,
lutar pela saúde significa lutar pelo Brasil.
Fortalecer o SUS se impôs como uma
necessidade imperativa ao povo. Segundo o IBGE, 75% da população brasileira
dependem exclusivamente das ações assistenciais do SUS, e em algumas regiões do
país este percentual chega a 90%. Já as ações de proteção, de vigilância em
saúde, muitas vezes invisíveis, sobre algumas das quais a pandemia colocou luz,
são 100% atribuições do SUS.
A pandemia também deixou claro que
fortalecer o SUS é fortalecer a soberania e a segurança nacional. Em tempos de
convergência tecnológica, é fundamental incentivar a ciência, tecnologia e
inovação em saúde, através do desenvolvimento e produção nacional de
tecnologias da informação e comunicação, equipamentos médicos, fármacos,
vacinas, equipamentos de proteção individual, assim como a ampliação da
capacidade de apoio diagnóstico dos laboratórios públicos.
A luta pelo SUS público, integral e universal,
contou até o momento com a atuação combativa dos comunistas, socialistas e
trabalhistas e dos verdadeiros humanistas, que sempre estiveram presentes no
longo período de tempo de construção do projeto do SUS e da reforma sanitária
brasileira, com vitórias importantes, como a implantação de um conjunto
significativo de políticas, programas, serviços e práticas de saúde bastante
efetivos.
Além, ainda, dos mecanismos de
participação social que, especialmente por meio de conselhos e conferências de
saúde, contribuíram para que os avanços ocorressem. A atuação de profissionais,
de lideranças do PCdoB no Conselho Nacional de Saúde, em conselhos estaduais e
municipais, ao longo desse tempo, é um bom exemplo da importância de
participação da militância e das entidades dos movimentos sociais na luta do
controle social do SUS.
Um aspecto decisivo na defesa e no
fortalecimento do SUS tem sido a atuação destacada dos parlamentares do PCdoB
no Congresso Nacional e demais casas legislativas, onde realizam uma luta
histórica contra o neoliberalismo e o processo de privatização, na denúncia do
subfinanciamento da saúde pública, mais recentemente traduzida na luta pelo fim
da Emenda Constitucional 95. Neste período, com uma atuação articulada com os
movimentos sociais e com os trabalhadores da saúde, foi possível aprovar
políticas públicas de saúde voltadas para mulheres, população negra, indígenas,
jovens, idosos, LGBT+, populações em vulnerabilidade ou exclusão social,
as políticas de equidade do SUS.
Soma-se à luta histórica do PCdoB na
saúde a atuação de gestores comunistas em administrações públicas, executando
ações de fortalecimento das estruturas do SUS, intervenções que propiciam
serviços de qualidade que impactam positiva e diretamente nos indicadores da
saúde e, por consequência, proporcionam uma melhor qualidade de vida. Há o
exemplo das ações desenvolvidas no governo do Maranhão, na Secretaria de Estado
de Saúde do Espírito Santo, na Superintendência de Vigilância em Saúde do
Amapá, em diversas secretarias municipais de Saúde, e recentemente na condução
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) hoje presidido por um
profissional respeitadíssimo por seus pares.
As eleições municipais e a plataforma
de saúde do PCdoB
Precisamos ampliar a participação dos
comunistas nas prefeituras e nas câmaras municipais. O processo eleitoral de
2020 é um importante momento para a sociedade brasileira – e principalmente
para o PCdoB – deixar a sua marca no aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde.
Para isso apresentamos as diretrizes
da plataforma de saúde do PCdoB para as eleições de 2020, estimulando
os candidatos e as candidatas – a partir desse acúmulo da atuação partidária,
na área da saúde – a elaborarem suas próprias plataformas de saúde, refletindo
e formulando propostas para a realidade local, partindo do princípio de que a
saúde pública já era a principal angústia do povo brasileiro e agora, com a
tragédia da pandemia, tornou-se ainda mais grave e dramática.
Destaca-se a oportunidade de garantir
a capilaridade das nossas propostas em todos os municípios em que o Partido
terá chapa de vereadores e candidaturas às prefeituras, ou candidatos/as
apoiados/as pelo Partido. Para tanto, é apresentada abaixo a indicação de um
conjunto de propostas para programas e projetos municipais que podem compor a
plataforma de saúde dos/as candidatos/as:
1. Cidades em
que o povo viva bem e com saúde. Garantir condições para que o povo possa
viver mais e melhor, através de políticas públicas e sociais que promovam a
qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e das cidades,
reforçando o papel estratégico da gestão municipal dos recursos da saúde, como
fim e meio de colaborar para o desenvolvimento econômico e social brasileiro,
como está previsto no Artigo 196 da Constituição de 1988.
1.1. Promover o amplo acesso ao
saneamento básico nos municípios, como parte de um
programa de desenvolvimento integrado e consorciado entre os governos.
1.2. Fortalecer a política de saúde dos trabalhadores/as,
mediante reorganização dos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST) e
valorização do diálogo social através das Comissões Intersetoriais de Saúde do
Trabalhador (CIST), implantando serviços de atenção à saúde dos/as
servidores/as e trabalhadores/as, e viabilizando a efetiva participação dos/as
trabalhadores/as para promover a integração de ações na gestão da saúde.
1.3. Promover a proteção e a equidade em saúde para
enfrentar as desigualdades sociais. Para isso é fundamental o fortalecimento
das políticas de saúde da mulher, saúde da população negra e saúde indígena,
saúde da população em situação de rua e de outras populações em vulnerabilidade
ou exclusão social, para garantir a proteção e o cuidado a que têm direito.
2. Fortalecer a atenção básica: saúde
em casa e na comunidade. Para isso é fundamental realizar a
prevenção, promoção e resolução dos problemas mais frequentes e a coordenação
da atenção em todos os pontos da rede. Defender o preceito constitucional de
que as ações preventivas devem ser prioritárias, fortalecendo as ações de
vigilância em saúde, além de um plano que busque a cobertura de 100% do
território nos municípios menores, através da Estratégia de Saúde da Família,
e, nas grandes e médias cidades, a priorização da cobertura das regiões de
maior vulnerabilidade social. Fortalecer os territórios, dotar as regiões de
saúde com responsabilidade pela gestão, regulação, e, através da atenção
básica, a coordenação das redes de atenção e a efetivação da vigilância em
saúde. Fortalecer, também, o Programa Nacional de Imunização, que se
realiza hoje através da atenção básica. As vacinas já protegeram várias
gerações do povo brasileiro, e a vacina da Covid-19 também o protegerá.
2.1. Estruturar pontos de atenção ambulatorial especializada,
articulados com a atenção básica, a vigilância em saúde e a assistência farmacêutica.
Essa relação sinérgica visa a garantir a prestação de serviços eficientes,
efeitos de qualidade, e de acordo com as necessidades e preferência das pessoas
usuárias, através de serviços focados no cuidado multiprofissional. Diretrizes
clínicas construídas com base em evidências, prontuários eletrônicos integrados
em rede, especialmente com a Estratégia Saúde da Família (ESF), e que mantenham
comunicação em rede com outros níveis de atenção. Essas unidades poderão
cumprir funções educacionais e de pesquisa.
2.2. Efetivar ações de promoção e
cuidados integrais em saúde mental, nas famílias, empresas e comunidades. Reforçar a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) como um
novo sistema de serviços, baseado na comunidade e na proteção dos direitos
humanos das pessoas com transtorno mental, e na política de saúde mental que, à
medida que foi se fortalecendo, foi também se estendendo a outros objetivos: a
prevenção dos transtornos mentais, a atenção à saúde mental de crianças e
adolescentes e as estratégias contra as dependências de álcool e outras drogas.
A reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial são bandeiras civilizatórias que
devem ser empunhadas pelos comunistas.
2.3. Garantir à população o acesso a medicamentos é componente
fundamental do direito à saúde. É fundamental a utilização de todas as
ferramentas disponibilizadas pela ciência e tecnologia, bem como a força de
trabalho necessária para garantir o medicamento e as tecnologias da saúde como
um direito. A coordenação do trabalho desenvolvido pelo Programa Farmácia
Popular e pela Assistência Farmacêutica Municipal deve garantir o acesso aos
medicamentos como componente fundamental do direito à Saúde. A assistência
farmacêutica também deve estar articulada com a vigilância em saúde,
principalmente para viabilizar as melhores condições de garantir o acesso a
medicamentos estratégicos, em especial as vacinas.
2.4. Fortalecer e estruturar o
componente público municipal do sistema nacional de laboratório de saúde
pública. Os laboratórios foram
amplamente privatizados, o que resultou em precariedade na capacidade da
testagem da pandemia em curso. Como um dos grandes legados do enfretamento da
pandemia, os municípios devem desenvolver um programa voltado para a
estruturação de vigilância para doenças emergentes e re-emergentes, elevando os
níveis de capilaridade da vigilância em saúde, com modernização de estrutura e
qualificação de pessoas.
2.5. Reconstruir a capacidade instalada de leitos hospitalares
públicos, com ênfase na interiorização e na regionalização, a fim de
solucionar a grande disparidade na distribuição desses leitos em todo o Brasil.
Isso se faz obrigatório, pois com a pandemia ficou evidente a restrição do
acesso aos leitos hospitalares, especialmente os de terapia intensiva,
provocando mortes evitáveis e aumento de óbitos nos domicílios, em função da
gravidade da Covid-19.
3. Valorizar os trabalhadores/as e
profissionais de saúde, desenvolvendo políticas que melhorem
condições de trabalho, ofertando remuneração justa e a definição da carreira de
Estado. É fundamental a edição de concursos públicos para o quadro de saúde,
repondo e ampliando a força de trabalho do SUS. Já era grande a precarização do
trabalho entre os profissionais de saúde – por meio da contratação via as
organizações sociais, terceirizações, privatizações -, com a pandemia,
ampliou-se com mais escândalos e perdas de direitos trabalhistas.
3.1. Ofertar oportunidade de
qualificação crescente, com residências e formações centradas no trabalho em equipe, com políticas de valorização dos
agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate a endemias, haja vista
que são carreiras do SUS e os seus respectivos vínculos variam de município
para município. Estimular vínculos permanentes e de tempo integral que permitam
atender às necessidades da saúde da população.
4. Fomentar a inovação, a extensão e
o desenvolvimento humano e tecnológico do SUS. Criar uma rede de
institutos de ciência e tecnologia municipais e estaduais, assim como
concatenar as atuais escolas de saúde pública ao movimento das Instituições
Científicas e Tecnológicas do SUS (ICT-SUS). Orientar que todos os municípios
com mais de 500 mil habitantes tenham ICTs constituídas, e os de mais de 100
mil criem suas escolas de saúde pública, como escolas de governo em saúde. Estabelecer
parcerias com as universidades públicas da região.
4.1. Fortalecer a comunicação em saúde para as comunidades,
garantindo amplo acesso à internet nos territórios e comunidades mais
vulneráveis, como uma medida de saúde pública, bem como disponibilizar à
população soluções e aplicativos que estejam articulados a serviços para
realizar orientações clínicas, regular usuários e agendar procedimentos,
monitorar a evolução dos casos, georreferenciar a propagação da doença, entre
outras diversas possibilidades.
5. Assegurar a gestão participativa
do SUS. Promover o planejamento local
participativo, com a integração dos/as cidadãos e cidadãs. Garantir a
participação da comunidade na elaboração do plano municipal de saúde como fonte
ordenadora do planejamento das ações e da vinculação orçamentária prevista no
Fundo Municipal de Saúde.
5.1. Garantir a participação da comunidade no controle social do SUS,
ampliando os espaços municipais de participação da comunidade, nos serviços de
saúde, como conselhos gestores locais e/ou comitês de equidade (saúde da
mulher, população negra, do campo e floresta, juventude, população em situação
de rua, LGBTQI +…). Reforçar a qualidade da representação e da participação
social e dos trabalhadores nos conselhos e nas conferências municipais de
saúde. Desburocratizar os espaços de Controle Social do SUS. Ampliar, junto às
comunidades e famílias, os espaços de vivência das práticas integrativas e
complementares, assim como da educação popular em saúde.
5.2. Avançar na gestão compartilhada do SUS, aplicando o caráter
tripartite, com a responsabilidade pelo seu funcionamento e financiamento do
município, do estado e da União. A garantia ao acesso universal e integral às
ações e aos serviços de saúde do SUS, com efetividade e eficiência, exige uma
articulação colegiada e compartilhada do planejamento e dos recursos físicos e
orçamentários, entre os entes que compõem o sistema.
5.3. Denunciar o brutal ataque ao SUS
e realizar campanha
permanente em sua defesa e valorização. O fortalecimento e valorização do
SUS têm caráter pedagógico junto à comunidade, quanto ao papel do Estado,
principalmente pelo fato de as eleições municipais ocorrerem justamente no
período de definição dos orçamentos de 2021 ainda subordinado à famigerada EC
95, do teto dos gastos; e da tramitação da reforma administrativa – agendas que
ameaçam violentamente o SUS, seja pelos 38 bilhões a menos no orçamento da
União para 2021, seja pela precarização do trabalho. Mais do que subfinanciar,
o governo Bolsonaro empreende agressivo desfinanciamento, criminoso corte de
recursos do SUS.
A proteção e defesa da vida, o
fortalecimento do SUS são compromissos programáticos destacados e elevados das
candidaturas do PCdoB às prefeituras e câmaras municipais. É tema estratégico à
jornada para assegurar a vitória do PCdoB nas eleições municipais de 2020!
Lutar pelo SUS é lutar por cidades
democráticas e mais humanas, é lutar pelo Brasil.
Brasília, setembro de 2020
Comissão Nacional de Saúde do Partido
Comunista do Brasil-PCdoB
Por Priscila Lobregatte no Portal do
PCdoB
2 comentários:
Propostas concretas para humanizar nossas cidades.
Vamos à luta!
Ótima matéria que deve ser lida e debatida para a construção de programa em saúde pública Municipal.
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